O FIO DA NAVALHA


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O FIO DA NAVALHA
William Somerset Maugham
            Comprei este livro por volta de 1989 e a edição que tenho é de 1986. Sempre fui inclinado a lê-lo, peguei-o várias vezes, mas nunca animava passar do primeiro capítulo, que li algumas vezes. Os anos se passaram e somente agora quebrei a barreira invisível que me impedia de fazer a leitura por completo.
            Não é a única obra desse autor que tenho, não tendo porém lido nenhuma outra, digo isso para ficar claro que apesar de ter a certeza de estar diante de um excepcional escritor, sempre que podia comprava as obras que iam sendo publicadas na esperança de algum dia romper o véu que nos separava.
            Talvez isso seja a maturidade ou o abandono da preguiça. Não sei, só sei que esta obra foge ao comum do autor e a crítica não foi muito amiga, porque o achava um escritor sem muita significância. É óbvio que o reconhecimento veio tardio, o que não se deu com a crítica literária de sua época foi compensada pelo público que amava o jeito quase coloquial de narrar com simplicidade a vida de seus personagens.
            Esse livro foi escrito em 1944, quando ainda a segunda guerra desenrolava na Europa e talvez por isso tenha causado tanta estupefação porque o personagem central é retratado como alguém que volta da primeira guerra mundial desiludido com o que vira e presenciara nas trincheiras, estando disposto a dar as costas ao mundo que conhecia e seguir para o oriente em busca de paz e sentido para a vida.
            De fato a guerra transformara por completo Larry e agora ele andava de poucas palavras, era mais contemplativo, muito reservado e tinha um sorriso encantador porém enigmático.
            O autor Maugham é também o personagem\narrador e trava com o leitor diálogos à medida que conta seus encontros com Larry, Isabel e Gray, um triângulo amoroso e mal resolvido, mas não me entenda mal é que Isabel está perdidamente apaixonada por Larry e Gray por ela, mas Gray é amigo de longa data de Larry, daí sempre como um cavalheiro mantém a distância a contragosto de Elliot, tio de Isabel.
            Para mãe de Isabel, a Senhora Bradley, o namoro da filha é pura perda de tempo, porque o certo seria que ela se casasse com o rico e bem sucedido Gray, o melhor partido de Nova Iorque e que apesar da discrição deixara evidente para todos, que babava por Isabel.
            Maugham conhece Elliot e passa a ser convidado para os sarais patrocinados por ele. Elliot era um homem bem sucedido, os primeiros anos foram de muita humilhação, mas sua “fineses” foi premiada, porque tinha excelente visão para os quadros e amealhando uma quantia significativa de obras originais de pintores já afamados ou em ascensão ele acabou por fazer uma pequena fortuna e um bom círculo de amizades.
Fixara-se em Paris e achava insuportável qualquer outro lugar, para ele Londres servia apenas para negócios, mas nada se comparava à cidade das luzes e do amor.
Assim falando parece que estamos diante de um pedante almofadinha, mas prefiro ficar com o testemunho que lhe dá o autor quando diz: “Se dei ao leitor a impressão de que Elliot Templeton era um tipo desprezível, cometi uma injustiça.” Porque ele era o que dizem os franceses um serviable, palavra sem correspondente em língua inglesa, mas que pode ser traduzido por obsequioso, amável ou prestadio, contudo ele era mesmo - generoso.
Isabel quer achar meios e momento para fazer com que Larry se decida a trabalhar e então levá-la ao altar e pressionada resolve que vai expor-lhe suas aflições e saber se de fato ele pretende assentar-se, porque desde que chegou do “front” ele não buscou uma ocupação. Gray assegurou-lhe um cargo na empresa, mas Larry se mantinha reticente.
Impulsionada pela necessidade de uma decisão, ela pergunta o que ele pretende. Larry calmamente diz a Isabel que não vai aceitar o emprego oferecido pelo amigo, porque pretende ficar em Paris por pelo menos dois anos. Amargurada ela se resigna e aceita esperá-lo, não, porém sem perguntar-lhe: o que você vai fazer em Paris?
Com a maior desenvoltura e naturalidade ele responde: VADIAR.
A simplicidade dessa obra, a interlocução do narrador com leitor, a proposta franca inusitada do protagonista e os eventos históricos no qual os personagens estão inseridos fazem desse livro um oráculo e o sentimento que fica é que o tempo todo se está, n’O FIO DA NAVALHA.
Itaúna, 10.04.2019
Cláudio Lisyas Ferreira Soares 
     
    
                     


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