EM NOME DE DEUS - PARTE III




Resultado de imagem para albino luciani imagens




EM NOME DE DEUS – Parte III
David Yallop
            
                Agora o menino que almejara apenas ser um padre chegara ao ápice cobiçado por muitos padres carreiristas, pois se tornara Cardeal. Naqueles dias a Igreja contava com mais de 110 cardeais para representar milhões de fiéis espalhados por todo o planeta.
                Albino Luciani se tornara Cardeal, mas não deixara o velho hábito do sacerdócio, continuava visitando semanalmente os doentes no hospital, os encarcerados nas cadeias e presídios locais, bem como atendia aos fiéis, tudo isso para desespero do seu secretário que não conseguia fazê-lo entender que, como cardeal, não poderia mais se expor como o fazia enquanto pároco.
                Incorrigível, simplesmente ignorava e seguia sua jornada pastoreando seu rebanho, agora maior.
                Não se furtava, porém, às exigências do cargo, o que o pôs em rota de colisão com o Bispo Paul Marcinkus, quando teve que se inteirar da venda da Banca Catholica del Venetto e soube por Benelli, o segundo na Secretario de Estado do Vaticano, das jogadas financeiras do presidente do Banco do Vaticano.
                Como aquilo era agora caso encerrado, Albino e muitos outros em Veneza encerraram suas contas na Banca Catholica e ele pessoalmente transferiu as contas diocesanas oficiais para o pequeno Banco San Marco.
                Esta questão não parou por aí, frequentemente Benelli, confidenciava para Albino as tramoias de Marcinkus, gerando novos desdobramentos, até que dias antes da morte de Paulo VI, o mesmo tenha dito: “Estou convencido de que o Papa Paulo VI cometeu um erro ao destinar-me para a Sé de Veneza.”.
                Em seis de agosto de 1978, o trono fica vazio, morre o Papa Paulo VI.
                Com a morte do Papa, reúne-se o colégio cardinalício, e instaura-se o CONCLAVE, que grosseiramente seria a convocação e reunião de todos os cardeais da Igreja Católica Romana, que uma vez, encerrados em uma sala ali permanecerão por inúmeras votações até eleição do novo Papa. Não participa da eleição o Cardeal Camerlenco, que no caso era o Secretário de Estado, Jean Villot, naquele momento guardião das chaves de Pedro.
                Antes de sua morte, o Papa Paulo VI, deixara determinações a serem seguidas durante a sede vacante, dentre elas: a renuncia automática dos cardeais que ocupavam cargos de departamentos na cúria romana, com exceção do Camerlenco; outra medida fora a exclusão do conclave dos cardeais com mais de oitenta anos o que lhe custou acalorados debates e a ira de muitos com este perfil.
                Iniciada as congregações gerais, o colégio cardinalício, já saíra em desvantagem porque antecipadamente a bolsa de apostas de Londres já abrira o pregão e o favorito era o Cardeal Pignedoli, cotado a 5 por 2, sendo que a cotação mais alta era para o Cardeal Suenens, enquanto que o Cardeal Albino Luciani nem aparecia na lista de candidatos papais.
                A votação começara na manhã de 26 de agosto, depois da missa e o café da manhã, quando cada cardeal se dirigiu à sua cadeira na Capela Sistina, cientes das formalidades deixadas por Paulo VI. O primeiro escrutínio revelou uma surpresa para Albino, pois ficara, segundo informações extraoficiais, em segundo lugar com 23 votos seguindo de perto o Cardeal Siri com 25 votos. Assim se sucedeu até a quarta votação uma disputa acirrada entre o Cardeal Siri e o Cardeal Albino Luciani que a cada novo escrutínio avançava e superava seu oponente até que na derradeira votação tivemos o seguinte resultado, também extraoficial: 99 votos para Luciani, 11 votos para Siri e 1 voto, o de Luciani, em Lorscheider.
                Havia naquela manhã pela primeira vez na chaminé da capela sistina uma fumaça cinza que após dissipar a fuligem tornou-se clara e branca.
                Assomando-se à sacada Fellici anunciou: “Annuncio vobis gaudium magnum! Habemus Papam. Cardinalem Albinum Luciani.”.
                Vejo em Albino Luciani uma lucidez só presente nos sábios, pois respondendo a “Villot”, o Cardeal Camerlenco, que se aproximando lhe perguntou “Aceita sua eleição canônica para Supremo Pontífice?”, disse: “QUE DEUS OS PERDOE PELO QUE FIZERAM COMIGO. (...) ACEITO.” Sabia que o caminho era estreito e curto.
                Perdoem-me os caros leitores porque não pude terminar nessa, mas o farei com certeza na próxima.
Itaúna (MG), 18.01.2017

Cláudio Lisyas Ferreira Soares

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

BUtterfield 8

O DESPERTAR DE MENFREYA

O FIO DA NAVALHA