MORTE POR LUXURIA
Imagem extraída do site da editora Panda Books
Morte por luxúria
Peter
Tremayne
O Sínodo de Whitby, convocado por Oswy
Rei da Nortúmbria, se auto proclamava no direito de discutir o celibato, o que
é hoje amplamente difundido e aceito no ocidente, certamente não o era naqueles
idos de 664 d.C. e principalmente porque a igreja celta não guardava o costume
de que seus sacerdotes fossem abstêmios de sexo, pelo contrário havia
casamentos e as famosas casas mistas estavam espalhadas por toda região meridional
da Bretanha.
Este é o ambiente explorado por Peter
Tremayne escritor inglês que adotou este pseudônimo, cujo nome verdadeiro é
Peter Berresford Ellis, e no melhor estilo de O NOME DA ROSA, nos presenteia
com este suspense de atmosfera gótica em plena idade das trevas.
A Igreja estava mergulhada em fúteis
discussões, enquanto os fiéis agonizavam sedentos da verdade.
O Sínodo pretendia dar fim a demanda, para
proclamar definitivamente se o sacerdote poderia se casar ou não e viver
maritalmente com sua consorte.
Havia no ar um cheiro de morte e
pretensões diversas iriam se encontrar num mesmo espaço, onde sem dúvida o
clima de animosidade poderia ser o estopim para um cisma na igreja.
O risco era todo de Oswy, porque os
saxões não estavam felizes sob seu séquito e alimentavam o desejo de retornar
às práticas de seus ancestrais, práticas estas, mormente adotadas antes dos
cristãos chegarem.
Não era este o único ingrediente de
tensão naquele encontro é que a cristandade também estava dividida e qualquer
que fosse o veredicto alguém sairia insatisfeito do encontro, em outras
palavras a paz não seria celebrada e o dissenso só aumentaria o desgosto de
Roma e a insubmissão do clero.
Pensar que Cristo pouco falou sobre o
assunto e agora a sua igreja se envolve numa luta interna que a dilacera e
expõe suas vísceras aos algozes detratores que, ganhando outras vozes, diminuem
a marcha do cristianismo e destroem o que de melhor a falsa paz do decreto de Constantino
lhes trouxe.
Para piorar as coisas a principal
defensora das casas mistas e do casamento para o sacerdócio era a Madre
Superiora Étain, que faria a defesa dos interesses da igreja celta. Era
aguardada com muita expectativa e receio face ao clima de violência eminente e
não foram frustradas as expectativas, porque a assassinaram e as suspeitas
recaíram sobre a Igreja Romana.
Em virtude disso, viera também, para o
encontro a freira Fidelma famosa pela sua argúcia e capacidade dedutiva, mas o
cenário machista da Nortúmbria não era nada convidativo para uma mulher tão
independente para aquela época.
Logo na sua chegada Fidelma depara com um corpo “suspenso na ponta de
uma espessa corda de cânhamo presa no galho de um carvalho atarracado.” Tudo
indica se tratar de um irmão desafortunado que caiu nas mãos de pagãos ou
ladrões impiedosos, que não nutrem nenhum respeito pelos hábitos dos monges e a
ver pelo corte de cabelo se tratava de algum irmão de Columba, pois tinha a
cabeça raspada com a tonsura daqueles.
As coisas não iam bem, os
acontecimentos recentes colocaram água na fervura e havia acusações acaloradas
entre as facções da Igreja e para adoçar o melado as intrigas da corte passavam
a ideia de que o Rei Oswy não tinha o domínio da situação, era, portanto, urgente,
que as investigações dessem ao rei, meios para silenciar os opositores ao seu
governo.
Esse era um Sínodo que começara mal e
não tinha perspectivas para terminar bem, a não ser que a Freira Fidelma
pudesse revelar quem era o assassino, o motivo e a finalidade do assassinato da
Madre Superiora.
Não só o Estado, mas também a Igreja
aguardam uma solução para dar fim ao imbróglio.
Querido leitor, não se desespere esse romance
tem apenas 280 páginas e o autor de fato pesquisou bastante sobre a época
passando a quem lê o clima de tensão próprio daqueles tempos.
Sejam benvindos ao Séc. VII e suas
incertezas.
Itaúna (MG), 24 de junho de 2017.
Cláudio Lisyas Ferreira Soares.
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