O ARQUEIRO
O ARQUEIRO
Bernard Cornwell
A impensável guerra dos
100 anos. O embate entre Inglaterra e França, o confronto inevitável de duas
coroas, de dois impérios. Nenhuma das duas nações imaginava que as velhas rixas
e os novos motivos e interesses pudessem fazer uma guerra se arrastar por um
século, consumindo ao mesmo tempo o orgulho e a honra, a ponto de no final não
mais saberem o que os impulsionou a tal desgraça.
Este é o cenário escolhido por Bernard Cornwell um dos
maiores romancistas históricos da Grã Bretanha na opinião da crítica literária
em geral, o palco próprio para criar a Trilogia do Graal.
Hookton, pequeno burgo na costa da Inglaterra, sem
qualquer interesse para o conflito, lugar onde crescera e fora criado, Thomas,
filho do padre Ralph, para a época um bastardo, fruto da relação de seu pai, o
padre e sua governanta.
Segundo se comenta na aldeia o padre Ralph é um homem rude,
apesar de culto, por certo pertenceu à família nobre, caiu em desgraça tendo
sido trancafiado em sua cela, pois enlouquecera, diziam que estava possuído por
demônios, no entanto, após recuperar-se foi enviado a Hookton onde vivia desde
então e a cidade era agradecida porque mesmo se tratando de um pequeno lugarejo
tinha um padre de verdade que trouxera certa notoriedade ao lugar com a
relíquia e os livros que consigo trouxera.
Para
Tom nada disso importava, teve que conviver com esse fato, com o consolo de que
o pai padre não o abandonou, pelo contrário o assumiu e o criou até aquela
idade de 18 anos, pois a maioria dos que assim caiam em ruína no sacerdócio,
não só largavam a batina, como abandonavam seus filhos e ele seu pai não fez
nenhuma coisa nem outra.
É
o domingo da páscoa do ano de 1342 e a primeira vez que Tom é escalado pelo
Padre, seu pai, para montar guarda das relíquias da paróquia, uma lança que
dizem ser de São Jorge, aquela que matou o dragão. Há os que não acreditam em
tal coisa, mas há também os que acreditam, como Thomas, pois seu pai assim lhe
dissera. Há também um cálice de prata com decoração e filigranas encrustados no
seu corpo, de beleza impar, com o qual seu pai costuma após rezar a missa, servir
a ceia.
Junto
com ele estão quatro soldados de prontidão. A conversa já ia altas horas da
madrugada e os amigos de escolta questionam a guarda de dois cacos sem valor e
a necessidade de que eles fizessem a proteção das relíquias, porque naquele fim
de mundo ninguém sabe da sua existência, quem em sã consciência virá aqui
roubar essas bugigangas?
A
tentativa de largar os postos esbarou na crença de Tom de que o pai tinha
razão, pois a qualquer tempo que alguém soubesse do paradeiro da lança,
certamente viria tomá-la, o difícil era convencê-los, que se alguém quisesse de
fato fazer isso, se eles conseguiriam os impedir.
A
madrugada seguia silenciosa, quando se ouviram os primeiros gritos e o ribombar
dos canhões na praia, a cidade ficou aturdida e o pânico tomou conta das ruas,
quem podia corria e levava o que conseguisse carregar, porque se sabia que atracaram
na costa quatro grandes navios de guerra franceses e já desembarcara quarenta soldados
bem armados.
A
cidade foi incendiada, os homens mortos ao fio da espada, as mulheres que
ofereceram resistência tiveram o mesmo fim e as donzelas estupradas, as mais
bonitas arrastadas para os navios para serem vendidas aos prostíbulos ou se
casarem com os marinheiros e entre elas Jane, grávida de Tom, que naquele
instante não sabia discernir seus próprios sentimentos, se de alívio por não
ter que dizer nada a seu pai ou de desespero porque ali estava indo no ventre
de sua amada, seu filho, o qual não conheceria e nem criaria.
O
que restou a ele foi fugir, pois a luta na Igreja era desigual, não teriam
nenhuma chance ficando ali parados, esperando para enfrentar soldados armados
até os dentes com apenas uma espada velha que seu pai lhe dera. Tratou então de
subir até o telhado e de lá alcançar o morro vizinho na esperança de chegar
dali ao estábulo e com a ajuda de Deus entrar no depósito onde guardara seu
arco e o saco de flechas.
Thomas
sempre brigara com seu pai que o queria estudando para padre em Oxford, o que
fizera a contragosto no último ano, porque sua alegria ainda era fabricar arcos
e flechas e aquele agora em suas mãos fizera para si mesmo, o que por certo a
partir de agora seria um terror para os invasores.
Foi
sem sombra de dúvidas uma aventura histórica maravilhosa, li as 443 páginas em
três dias apenas nas horas vagas e não me arrependo, porque dá para se sentir
em plena batalha e o ritmo impelido é na hora do combate, nauseante tanto
quanto empolgante.
Sejam
bem vindos às batalhas sangrentas da idade média.
Itaúna
(MG), 14 de março de 2018.
Cláudio Lisyas Ferreira Soares
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