BENTO RODRIGUES





Imagem tirada do Google imagens

BENTO RODRIGUES
José Eduardo de Oliveira
            Bento Rodrigues dito assim não quer dizer nada para a maioria dos leitores, principalmente se estiver fora da região de Mariana, Minas Gerais. Mas mesmo mais longe para os de memória mais aguçada e atenta é o lugar da maior tragédia mineral dos últimos anos se não for décadas, porque não séculos.
            Esta obra me foi dada para ler e comentar pelo Professor Arnaldo, que me disse estar andando por uma feira de livros e deparou com este livro e pensou logo em mim como alguém que pudesse lê-lo e comentá-lo.
            Em primeiro lugar me sinto premiado porque o li e muito raramente tenho a oportunidade de ler sobre história de nossa região até porque não temos muitos historiadores com a capacidade de escrever de forma enciclopédica. Para minha grata surpresa pude verificar na escrita do autor desse legado histórico, o quão grande é o historiador José Eduardo de Oliveira.
            O autor faz um trabalho de pesquisa intenso. Vai aos arquivos históricos como se estivesse a garimpar entre documentos esquecidos nos rincões das estantes pouco visitadas e traz a lume as origens de Bento Rodrigues. Dizem os documentos tanto daqui quanto de Portugal, que um tal de Bento Rodrigues, oriundo de São Paulo, primeiramente agricultor, tinha por lá umas terras de cultura, tudo vendeu e a convite de Arthur de Sá e Menezes aventurou-se para as bandas de Minas Gerais à procura de ouro, vindo por fim se fixar próximo a Mariana, num lugar entre Inficionado e Camargos, que veio posteriormente ser batizado com o seu nome, mas isto é ainda uma incógnita, não podendo se afirmar se tratar do mesmo Bento Roiz ou Rodrigues fundador do subdistrito de Santa Rita Durão, distrito de Mariana.
            De fato quando isso se deu por volta de 1700, um pouco menos para alguns um pouco mais para outros, o fato é que sua permanência foi por causa de haver encontrado ouro de certa qualidade e por aqui foi ficando enquanto a bateia revelava o oculto tesouro da terra.
            O subtítulo do livro dá-nos o tema da obra que pretende levar-nos numa viagem histórica para vermos a TRAJETÓRIA E TRAGÉDIA DE UM DISTRITO DO OURO.
            O levantamento pormenorizado feito pelo autor nos conduz ao longo dos séculos, mostrando os inúmeros visitantes que por esta região passaram com interesses os mais variados, que vai desde o romantismo dos exploradores como os gananciosos bandeirantes até pesquisadores de renome internacional que aqui aportaram financiados por não menos gananciosos países europeus, loucos por solapar o já tão maltratado solo mineiro.
            A trajetória de Bento Rodrigues é a de todo lugar, cujo interesse é eminentemente extrativista, ascensão vertiginosa e esplendor conjugado com o repentino esquecimento e ostracismo, é como se costumou dizer por aqui FOGO DE PALHA. O fim de lugarejos assim é se tornar um distrito de alguma cidade mais próxima, mas que no caso de tão pequeno trata-se mesmo de um subdistrito, sendo enfim um lugarejo e entroncamento de passagem para outras regiões ou cidades mais ao norte, mas o que nunca se espera é a tragédia.
            Depois de todos os anos de existência, de se acomodar a uma vida pacata BENTO RODRIGUES, foi surpreendida em 05 de novembro de 2015 quando a BARRAGEM DO FUNDÃO rompeu por volta das 15:00 horas liberando cerca de 55 milhões de m³ de rejeito e não bastasse isso, próximo dali, estavam duas outras barragens uma mais à direita conhecida como Barragem do Germano e outra mais à esquerda conhecida como barragem de Santarém exatamente no caminho de BENTO RODRIGUES. Foi assim que a TRAGÉDIA fez-lhe uma visita inesquecível, Bento Rodrigues foi varrido do mapa tal qual se vê na imagem que está na capa do livro, que na parte superior nos mostra uma casa e seu comércio, ao fundo três árvores e ao lado uma capela centenária, enquanto que abaixo o mesmo lugar está soterrado, sem casa, sem comércio, sem capela e apenas as três árvores ao fundo, este é o legado da MINERADORA SAMARCO, vista até em imagens de satélite que fazem parte da contra capa do livro, que causou o assoreamento do rio DOCE, fruto do descuido e descaso de quem revolve a terra sem compromisso social, paga o que quer e inflige ao povo um crime ambiental por causa de sua vergonhosa GANÂNCIA.
            Tenho para mim que o maior pecado não é o mal que se faz, mas a omissão e a impunidade únicas medidas capazes de evitar que ele se repita. São três anos e não se fala mais no maior desastre ambiental de nossa história, e o Alzheimer é a doença que mais assola este país porque não temos MEMÓRIA RECENTE.
            O livro é pequeno no tamanho, enorme no conteúdo e imensurável no ALERTA.
            Leiam porque não é um romance é um fato. Até quando Deus quiser.
            Itaúna(MG), 30.08.2018                                               Cláudio Lisyas Ferreira Soares.  

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