A BOA TERRA


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A BOA TERRA
Pearl  S. Buck
            Há livros que merecem uma releitura, não basta se ler uma vez é preciso com mais atenção buscar o que se perdeu na primeira leitura.
            A Boa Terra é um desses livros. Sinto só de falar dele uma nostalgia sem fim. Fico sem saber ao certo o que abordar tamanha a variedade de assuntos, que a autora Pearl S. Buck conseguiu evocar em minha alma naqueles tempos ainda primaveris de leitor iniciante, porque faz anos que o li.
            Foi sem sombra de dúvidas o livro que atingiu em cheio minha sensibilidade, porque sem jamais ter estado na China me senti lá, vi cada personagem, amei e odiei cada um deles naquilo que meu juízo cristão os avaliou e por fim julguei-me a mim mesmo.
            A rudeza da vida e a ternura com que os personagens a enfrentam é no mínimo encantadora, mas o melhor é que nos é apresentado não a China, mas o que faz a China ser maior que seu território, o seu POVO.
            Tudo começa com o raiar do dia, comum para todos os habitantes, menos para Wang Lung, camponês, homem simples, que naquela manhã estava eufórico, ansioso, apressado e contente.
            Ele mora com seu pai, já velho, ranzinza, de difícil disposição, exigente ao extremo. Wang Lung dessa vez não pôde esperar pelo pai e antes mesmo que o velho lhe chamasse como de costume, reclamando de sua tosse, ele foi abrindo as cortinas a despeito do que o pai pudesse lhe dizer e certamente lhe diria.
            O pai por sua vez não esperou que o filho lhe levasse a água quente matinal para aliviar a tosse e como que tateando o lugar levantou-se e foi até à cozinha e logo ao chegar foi perguntando: “- porque ainda não há água quente para aliviar os meus pulmões?
            Wang Lung sem olhá-lo um tanto envergonhado pelo atraso, respondeu prontamente que a lenha estava úmida e automaticamente tão logo a água ferveu retirou uma porção generosa com a concha e encheu a tigela, tomou em seguida o pote envidraçado e retirou mais ou menos dez folhas de chá secas e as espalhou na superfície da água, ouvindo o pai dizer: “- Porque estás tão gastador?
- Por causa do dia” foi a resposta.
            De fato era um dia especial para Wang Lung, estava agendado na Casa grande o seu encontro com a mulher com quem se casaria.
            Nunca a vira, seu pai a escolhera entre as criadas da senhora dona das terras, estava muito curioso, já especulara antes, perguntara a seu pai como ela era e o pai sempre reticente dissera que ela servia.
            Hoje, no entanto, ele queria ter certeza de que ela era bonita, que não tinha nenhum defeito ou aleijão e isto estava se tornando um tormento à medida que o tempo se amiudava e chegava a hora de buscá-la.
            Insistentemente, perguntou a seu pai como ela era, sua fisionomia, e o pai mais uma vez disse que ela era forte, que daria conta da lida, que suportaria muitos partos, lhe daria muitos filhos e impaciente começou a reclamar e foi preparar a água, saber se já estava quente para o banho e há muito ele não se banhava como naquele dia iria fazê-lo.
            Seu pai o recriminou, a água é preciosa demais para tanto esbanjamento, mas aquele era o dia de seu casamento e não seria bom pensarem que ele não era asseado e mal sabia o pai ele estava planejando ir mais cedo passar pelo mercado e tomar providências necessárias para melhorar ainda mais sua aparência.
            Com tudo em cima e já mais próximo da hora, tomou um cesto passando a alça pelo braço, despediu-se do velho e quando chegou na porta o pai lhe disse: Ela não é feia e não se preocupe também não tem nenhum defeito ou aleijão, ao que ele sorriu satisfeito e então saiu.
            Passando pelos campos, muitos lhe olharam com um sorriso no rosto e comentários de soslaio, sabendo que aquele era o dia.
            Já no Mercado assentou-se numa barbearia, fez cabelo e a barba e uma trança que descia pelas costa do que restou de sua cabeleira, perfumou-se pagou e saiu com um sorriso no rosto, que nenhuma tragédia por maior que fosse seria capaz de apagar.
            Aproximando-se da Casa Grande respirou fundo, sabia se comportar, não daria oportunidade para ninguém caçoar dele, mas todos ali sabiam de sua vinda e o porteiro foi logo dizendo você é o noivo em tom de deboche e lhe disse: Siga-me. Foi conduzido até a senhora da casa, ouviu muitas recomendações ela fumava sem parar e em alguns momentos divagava acerca da vida e de certa forma incompreensível para ele, o que foi bastante angustiante, porque ele só queria levar a criada dali, onde ela certamente era uma escrava da cozinha.
            A hora tão esperada chegou, a veneranda senhora disse: “... Você veio por causa da escrava chamada O-lan. Mandou chamá-la, tão logo chegara perguntou a O-lan: “- Estás pronta?” E O-lan bem baixo respondeu: “Estou pronta.” Então a velha Senhora contou como ela viera morar na Casa Grande, disse que ela tinha apenas dez anos quando ali chegou, fora vendida pelos pais que logo retornaram às terras do norte e desde então nunca mais ouvira falar deles e que durante estes dez anos que ali permaneceu fora muito obediente.
            Por fim, disse que levassem sua mala até o portão e despediu-os.
            Sinceramente, tudo isso que narrei com a liberdade de um comentarista não é nem de longe o que você encontrará nessa obra, porque está restrito às primeiras páginas do primeiro capítulo e lá o universo chinês é muito mais impactante do que as singelas palavras do leitor, porque a narrativa é profunda, tanto que não tenho dúvidas de que mereceu o prêmio NOBEL de Literatura de 1938.
            Até outra oportunidade.
Itaúna-MG 12 de outubro de 2018
Cláudio Lisyas Ferreira Soares    

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