ACIDENTE EM MATACAVALLOS


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ACIDENTE EM MATACAVALLOS
Mateus Kacowicz
            O livro ACIDENTE EM MATACAVALLOS é o tipo de achado surpreendente, porque é o livro de estreia do autor carioca Mateus Kacowicz.
            Se trata de um romance que se passa nos anos vinte, o ano é especificamente o de 1921. Há todo aquele romantismo próprio da época e a agitação que se seguiu no pós grande guerra.
            Era um Brasil provinciano, mas em franco avanço para a modernidade apesar da política rançosa da velha república, havia como hoje um burburinho em vésperas de eleição, um cheiro de mudança no ar e diga-se de passagem a gente se sente bem ambientado, porque no nosso país nada mudou.
            A imprensa está ativa e o jornal de Diógenes Braga, a FOLHA DA CAPITAL, traz na primeira página a morte por atropelamento de uma portuguesa colhida pelo bonde da empresa Rio de Janeiro Eletric Railway Company.
            A matéria escrita em português da época é outro encanto do livro e que nos arremete ao tempo em que a capital do país era o Rio de Janeiro, ele assim aborda o acontecido:
Quasi dávamos à estampa a presente edição quando fomos informados de que mais uma família foi enluctada por um bonde nesta cidade. D’esta feita o infausto se deu a Matacavallos. A Portuguesa Maria Couceiro, lavadeira, cuja edade nos é desconhecida, foi colhida pelo carro-motor nº 8 conduzido pelo nacional Clemente Euphrasio.”
            Braga é homem ambicioso e tem segundas intenções com a publicação do ocorrido, pretende tirar vantagem, pois precisa modernizar o maquinário da Folha e viu nesse episódio a oportunidade de angariar fundos para aquisição de equipamento novo capaz de alavancar o Jornal para um patamar mais competitivo e lucrativo.
            O alvo da vez era a Rio de Janeiro Eletric Railway Company, era a quarta vez no ano que um Tramcar da empresa britânica provocava acidente do gênero e a segunda com morte e claro o Diógenes não ia deixar passar em branco.
            Nenhum jornal da cidade dera ao acontecido o tom alarmista adotado pelo Jornal do Braga e isso estava claro, porque naquela manhã o matutino estava na mesa do Mr. Reginald Phineas Gross, diretor geral da Eletric e ele não estava para amigos. Irritado e bastante aborrecido teria que tomar uma atitude que nos bons tempos era só mandar apagar o desafeto, mas o board, ou seja, a direção em Londres exigia tato com a imprensa e a ordem era para fazer cessar o barulho, pagando-se se necessário o razoável.
            Primeiro o Mr. Reginald “Em lugar de pagar para ser atacado resolveu suspender os anúncios diários das tabelas de horários dos bondes na Folha da Capital e empregar os vinte contos mensais em coisa mais útil.”
            Foi o estopim esperado pelo dono do jornal quando recebeu do estafeta a carta comunicando o corte nas despesas da Eletric com os gastos com anúncios no jornal.
            Numa redação quase vazia o Braga aos berros gritou:
- Ó Pereirinha! Onde está o Pereirinha?
            A essa hora da tarde só podia estar e estava no salão de sinuca ao lado da redação, sendo lá encontrado pelo amanuense que saíra em desabalada carreira enviado pelo Diógenes dada a urgência.
            Pereirinha era o melhor repórter da Folha e a questão exigia o melhor, de fato era um personagem que fazia “jus” ao nome: “miúdo, franzino, cultor de um fino bigode a Pommade Hongroise, cabelos fartos, acamados para trás à custa de muita brilhantina, pérola, provavelmente falsa, abotoaduras de ouro igualmente duvidoso, colete em chamalote preto e manchas coloridas nas mãos: azul nos dedos da mão direita, pintados pelo giz do taco; amarela entre o  indicador e o médio da esquerda, pintados pela fumaça dos cigarros Adonis Grossos.”
            O fiel escudeiro de Diógenes Braga foi recebido com o anúncio:
“- Pereirinha o caso do bonde lá em Matacavallos: ele agora é teu!”
            Depois de muito tempo lendo romances estrangeiros, ler esse romance nacional é o mesmo que voltar de viagem respirando os ares da terra natal. O texto é primoroso, o desenvolvimento da história é esplêndido, faltarão adjetivos para o romance desse carioca e que venham outros.
Itaúna-MG, 25 de dezembro de 2019

Cláudio Lisyas Ferreira Soares


     

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