ANA TERRA




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ANA TERRA
Érico Veríssimo
            “Sempre que me acontece alguma coisa importante, está ventando.” Assim começa esse romance de Érico Veríssimo. Ouso chamá-lo de romance porque sua importância dentro da obra maior “O Continente” primeira parte do épico O tempo e o Vento, fez desse excerto uma obra capaz de viver por si, tanto que se não se falasse nada, ninguém diria que a obra em questão havia sido extraída de uma outra, tamanha sua independência e autonomia.
            Isto também mostra a grandeza desse autor gaúcho. Tenho dele “Olhai os lírios do campo” que comprei com a intensão de fazer dele o primeiro a ser lido, mas como sempre acontece comigo, olhando minha estante, vi ali acanhado um pequeno volume cuja a capa é esta mesma estampada acima e me pareceu ser aquele o instante de perder minha virgindade com essa obra, que comprei por causa do preço e por não deixar nunca passar uma oportunidade.     
            O tempo é final do século XVIII início do século XIX, o lugar são as terras do sul do país, o Rio Grande do Sul, a região é a fronteiriça, a família é a dos Terra.
            Ali na estância distante de tudo e de todos vivem o Sr. Maneco e Dª Henriqueta, seus dois filhos Antônio e Horácio e sua única filha Ana Terra.
            Ana Terra está com vinte e cinco anos de idade e tem esperanças de ainda se casar, mas socada naqueles cafundós do Judas suas chances são mínimas para não dizer nenhuma, porque é comum passar-se muito tempo sem se ver viva alma a campear por aqueles lados.
            A cidade mais próxima, Rio Pardo, fica distante e só Antônio tem o costume de ir até lá levando a carga de milho e feijão e até sua volta nada de notícias o que mostra o isolamento em que ali se vivia.
            Sonhava casar-se não porque sentisse falta de homem é que o casamento poderia ser seu passaporte para ir morar na cidade, Rio Pardo ou Viamão, ou melhor ainda, voltar para a capitania de São Paulo onde nascera.
            Percebe-se sempre a rondar as coxilhas o medo, presente nas lutas de fronteira, ora representado pelos ataques dos castelhanos que além de roubarem tudo, matam homens, crianças e estupram as mulheres. Quando os castelhanos não estão em guerra com os gaúchos são os índios que representam ameaça assolando toda região com suas investidas, causando tantos danos quanto os espanhóis.  
            Outro ingrediente é o isolamento, a distância com que se vive toda uma vida da civilização. Ana Terra sente falta do convívio com outras pessoas, de ir as festas, ir às compras muito comum na cidade e isto impõe um afastamento social do qual ela sente falta e torna a personagem muito introspectiva, pois não pode compartilhar seus mais íntimos sentimentos com ninguém e sua mãe é a única personagem feminina além dela e não há uma abertura para segredar seus folguedos e calores carnais, que são represados no seu íntimo obrigando-a a solilóquios cotidianos.
             A solidão é acachapante e diferente do isolamento porque é inconsolável, traz consigo o tristeza de terminar velha, abandonada e só. Os dias passam vagarosamente e ninguém aparece sendo poucas as notícias citadinas, mas quando chegam são acompanhadas de temores de incursões dos inimigos vindos de todos os lados.
            Diariamente a mesmice, todos os dias se passam nos afazeres domésticos e no vai e vem à sanga para lavar roupas e nos dias mais quentes despir-se e mergulhar nas águas do rio e é num desses dias que indo lavar suas roupas como de costume, que Ana Terra se depara com um corpo boiando rio abaixo, sem saber se está vivo ou morto desce a coxilha aos gritos apavorada chamando os homens para acudir o coitado que desce levado pela correnteza.
            Desse dia em diante toda aquela estagnação e imutabilidade serão transformadas com a presença de um estranho.
            Uma única pessoa mudará para sempre a tristeza que cerca a vida modorrenta que Ana levava.
            É preciso ler para se ter a ideia completa do drama de ANA TERRA e da terra de Ana. Sejam bem vindos aos pampas gaúchos.
Itaúna(MG), 07 de janeiro de 2020

Cláudio Lisyas Ferreira Soares
             
  

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