MONTMORENCY
Imagem tirada do google imagens
MONTMORENCY
Eleanor
Update
1875 – O Começo Sangrento.
Ladrão em fuga pelos telhados da Londres Vitoriana, ágil
e em desabalada carreira como se corresse nas calçadas. Se continuar assim
certamente não será hoje que a polícia porá as mãos nele. Confiante, vê sua
maleta soltar de suas mãos e no afã de alcançá-la abaixa-se para pegá-la ainda
em movimento, é quando tropeça na claraboia, sendo em seguida atirado contra o
vidro que se estilhaça todo. Na queda percebe a ausência de qualquer apoio a
que se possa agarrar e pôr fim a visão tenebrosa do piso se aproximando
rapidamente, mas o pior estava por vir, uma dor lancinante, quando seu corpo
atinge as estruturas metálicas e o chão duro da fábrica.
Triste fim para um ladrão promissor, o que agora são só
lembranças. A única coisa certa é que deveria estar morto, no entanto não está.
Naquela noite de um ano atrás ele se lembra vagamente de conversas, uma delas a
do médico, o Dr. Robert Farcett, cirurgião que resolvera salvar Montmorency de
seus múltiplos ferimentos, dizia ele:
“- Posso assegurar que
não pesará sobre as finanças do hospital. Providenciarei todo o equipamento necessário
e a supervisão”.
Já para os policiais era pura perda de tempo porque bem
que ... “Uma morte rápida pouparia aos tribunais os estorvos e as despesas de
ter que lidar com o criminoso. ”
Tais expectativas haviam sido frustradas pela intervenção
do Doutor e agora ele era uma experiência bem-sucedida. Certamente foram muitas
cirurgias principalmente em sua coxa, pois o Dr. Farcett havia cavado
profundamente até alcançar o osso esmagado e suturado as carnes dilaceradas
onde os pontos repuxavam enquanto punha tudo no lugar.
O tratamento se tornara um suplício e todas as vezes que havia
nova cirurgia isto só aumentava a agonia. Não fosse o resultado alcançado e os
progressos feitos em um ano, apesar de todo o sacrifício, certamente preferia
ter morrido.
No momento, está otimista, apesar de que sua recuperação
também lhe deu a alta e assim o levou a julgamento pelo crime. O juiz não
encurtou a mão e a condenação foi exemplar. No hospital era conhecido como
Montmorency, nome que encontraram na maleta de ferramentas a que estava
agarrado quando socorrido, na prisão era o preso 493.
Se considerava privilegiado pois era o único preso com
saídas frequentes, pois o Dr. Farcett estava preparando um ensaio sobre a cura
de ferimentos complexos para apresentar no Colégio Real de Cirurgiões, então
suas saídas para tratamento semanais seriam também aumentadas para as
apresentações em que ele serviria de modelo aos ouvintes do Colégio Real.
Nem tudo era positivo porque se por um lado tinha a
oportunidade de ver o sol duas ou mais vezes por semana deixando aquele antro
prisional, era inevitável que os demais presos se sentissem excluídos e o
considerassem um favorecido do sistema.
Forçosamente obrigado a ouvir palestras, sendo um ladrão
de praxe continuou roubando. Roubava ideias e fatos, guardando na memória os
detalhes de cada palestra. Eram o suficiente para lhe ocupar os pensamentos na
prisão enquanto exercia o trabalho entediante na oficina do presídio.
Uma palestra em especial chamou muito sua atenção a de
Sir Joseph Bazalgette, Engenheiro-Chefe da Companhia Municipal de Obras
Públicas. A palestra fora sobre a nova rede de esgotos de Londres, o que lhe
deu uma ideia para sua nova vida de furtos quando deixasse a prisão após o
cumprimento da pena.
Foi uma deliciosa descoberta a dessa escritora britânica,
Eleanor Update e de seu anti-herói simpático e envolvente, para saber de suas
novas peripécias é preciso ler, meu caro leitor.
Itaúna-MG, 14 de
junho de 2020.
Cláudio Lisyas Ferreira Soares
Comentários
Postar um comentário