SEM SAÍDA


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SEM SAÍDA

Norah McClintock

             A canadense Norah McClintock escreve para o público adolescente e não é porque é esse seu público alvo, que suas histórias não venham a agradar ao público adulto, muito pelo contrário, ela tem a mão boa para o suspense.

            Com uma linguagem fluída e segura encanta o leitor nas primeiras linhas, vai calmamente dando os contornos do problema e aumenta a tensão em doses apropriadas, prendendo-nos e amarrando-nos nas malhas de uma colcha de retalhos como poucos escritores são capazes de fazer.

            Aqui suas histórias foram publicadas pela Editora Melhoramentos, em tamanho de livro de bolso, com capa brochura sem orelhas e em papel amarelado. Trata-se de uma obra com 316 páginas, boa diagramação, facilmente lida em um ou dois dias.

            O livro em si pertence a série “mistérios de Cléo e Levesque”, que não precisam ser lidos em sequência, porque os mistérios não guardam relação entre si sendo cada caso iniciado e terminado na própria obra.

            Não se engane com esta escritora, pois ela é detentora do grande prêmio canadense para novelas policiais, o aclamado “Arthur Elis Crime Writers Award”, prêmio este que arrebatou não uma, mas cinco vezes.    

            Cléo é uma menina arguta e simpática, mora em East Hastings com sua mãe, sua irmã e o padrasto Levesque, o delegado de polícia.

            Como ela mesmo diz: viemos de Montreal para o interior acompanhando o destino do delegado, um tanto a nosso contra gosto, porque preferíamos a vida na cidade grande a viver no interior.

            A vida nesse rincão se resumia para nós a ir para escola logo cedo, enquanto o Delegado Levesque se dirigia a suas ocupações na delegacia de polícia.

Toda escola tem um tipo de aluno como Kyle Darke que era, “mais velho que todos os outros em todas as disciplinas, porque só consegue passar de ano depois de repeti-lo.” Com dezessete anos não estava mais obrigado por lei a frequentar a escola, ninguém entendia, porque ele ainda não juntara suas coisas e se despedira de vez da vida escolar. Só se dava bem mesmo no francês e não me pergunte porquê, pois estava atrasado um ano em todas as demais matérias.

            Ele era alto, poderia se arriscar no basquete desde que estivesse disposto a trabalhar em equipe, o que, neste caso, podemos tirar o cavalo da chuva. Tinha braços e pernas finos e longos e uma vasta cabeleira negra que caía até os olhos e descia até os ombros.

Se esforçava, barbaridade, para sumir na multidão, tanto que andava encurvado talvez para parecer menor do que de fato era, sem contudo qualquer sucesso. Outro hábito era manter o olhar fincado no chão para passar despercebido e sem pronunciar qualquer palavra, exceto é óbvio nas aulas de francês e para não deixar de fora sentava-se sempre no fundo da sala.

            A sexta feira começara muito mal pois acordara atrasada e fui a última a chegar ao compromisso com o professor de educação física Mowat, que havia planejado algo especial para nós naquele dia.

Surpresa! O Sr. Mowat programara lições práticas de primeiros socorros. É por isso que nos apresentamos no ginásio de esportes e não na sala de aula, também por isso estavam todos sentados em duplas, ou quase todos, porque quando chequei Kyle era o único sentado sozinho e adivinha só quem foi escalada a fazer dupla com ele? Sim, “euzinha” a atrasada do dia.

            A princípio achei que podia tirar tudo aquilo de letra, falei para mim mesma “Você é uma pessoa madura” “Você dá conta disso” “Você dá conta de qualquer situação”.

            Tudo foi às mil maravilhas até a instrutora iniciar a atividade dizendo que cada um de nós havíamos recebido um envelope com uma máscara descartável dentro e que agora poderíamos abrir os envelopes e retirar as máscaras.

            Como havia perdido as explicações preliminares perguntei a Sarah Moran que estava ao meu lado. “Máscaras?”  

            Sim é que vamos fazer respiração boca a boca.

Foi aí que se foram todas as minhas esperanças, porque certamente eu seria a piada do dia, da semana, não, do ano.

Com poucas apresentações e sem rodeios somos introduzidos dessa forma no mundo de Cléo e Levesque. É uma tentação que vale a pena.

Itaúna-MG, 12 de abril de 2021.

 

Cláudio Lisyas Ferreira Soares           

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