DEPOIS

 

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DEPOIS

Stephen King

         Há muito tempo estou devendo um comentário de uma obra de Stephen King, porque também estava devendo a mim mesmo ler um livro do mestre do terror.

            Na verdade ao ler esta obra me deparei com um autor, que navega em várias nuances da escrita literária, seus personagens são críveis, redondos, bem acabados.

            O livro em questão não é o livro em que se verá um grande aprofundamento na personalidade dos atores, até porque isto é mais comum em seus calhamaços, mas mesmo assim ele vai fazer com que o leitor se envolva com o psicológico de seus personagens.

            Muitos não sabem, que este livro é o resultado de um desafio feito ao escritor, do qual diziam ser ele prolixo e por isso incapaz de escrever um livro com apenas 200 páginas e como não podia deixar de ser, ele topou.

            O que podemos dizer após a leitura é que se deu muito bem e recomendo para quem nunca leu este romancista. Nele você encontrará a marca registrada de King, o suspense mesclado com o mistério, num pano de fundo sobrenatural.

            O personagem principal é o narrador, não no tempo presente, mas ele no futuro já mais velho falando de si mesmo no passado, que é o presente da história, quando tudo começou, quando ele descobriu ser capaz de falar com os mortos.

            Eu sou Jamie Conklin e havia desenhado um peru de ação de graças que ficou do caralho. Depois descobri que estava feio, feio para caralho. Bem a verdade às vezes é uma merda.

            Na volta da escola com minha mãe, enquanto ela me segurava pela mão e na outra eu segurava minha obra de arte, o peru de ação de graças e me achando foda, mostrava insistentemente o desenho a ela, que não mostrando muito interesse, olhava de relance e dizia um tá, tá, tá.

            Chegamos no elevador e para variar estava quebrado. Minha mãe não suportou e lascou:

“- Porra de elevador. ...E acrescentou você não ouviu isso, moleque.”

            Mamãe era uma agente literária, coisa que aprendeu com meu tio Harry, dono da agência literária Conklin, o fato é que minha mãe agora, depois do mal de Alzheimer do titio, vive às voltas com leituras e revisões dos autores da empresa, que aliás ainda está internado, sem saber se um dia vai deixar de estar.

            Por causa disto mamãe acabou endividando-se, nosso padrão de vida diminuiu. As coisas não andavam muito bem e tivemos que mudar mais para a periferia e ultimamente ela andava tensa, ansiosa demais, à espera de um livro do único autor “Best selers” da empresa, o aclamado Regis Thomas da série de livros “Roanoke”.

            Morar ali não fora uma escolha, mas dava para o gasto. Tivemos que subir as escadas até o 3º andar, lá só tinha três apartamentos e o do fundo era o nosso, parados do lado de fora do 3 “A”  estavam o Sr. e Sr.ª Burkett, de imediato soube que algo estava errado, porque o Sr. Burkett nunca fumava, algo proibido em nosso prédio.

            Coitado estava inconsolável, olhos vermelhos, típicos de quem chorara a tarde toda. Eu nunca o chamava de senhor, pois me referia a ele sempre como professor Burkett, isso é o que ele fazia dava aula de uma coisa difícil na Universidade de Nova York. Era Literatura inglesa e europeia, o que descobri só depois. Ao lado da porta estava a Sr.ª Burkett, só de camisola, que de tão transparente deu para ver quase todas as coisas através do tecido.

            Mamãe foi logo perguntando: Marty o que aconteceu?

            A resposta me pôs em cheque, porque ele disse à minha mãe - “Thia”, a notícia é tenebrosa. Mona Morreu hoje de manhã.

            Então como eu a via ali na porta e de camisola, enquanto lhe mostrava o desenho do meu peru de ações de graça e ela me respondia que estava horrível e não parecia um peru?

            Contei para minha mãe, mas ela não acreditou, disse que isto era coisa minha cabeça e que eu estava apenas impressionado, mas que eu vi pode ter certeza eu vi.

            Tudo começou a mudar para minha mãe, quando o Sr. Burkett disse que os anéis da Sr.ª Burkett tinham sumido. Dizia ele havia olhado em toda parte e para consolá-lo mamãe dizia vão aparecer.

            Nesse momento ouvi Sr.ª Burkett dizer que dava seis semanas para ele convidar a Dolores Magowan para almoçar.

            Resolvi por fim perguntar a ela onde estavam os anéis, porque sabia que os mortos sempre falam a verdade. Ela respondeu quase que instantaneamente: “Na Prateleira de cima do armário do corredor. - Bem no fundo atrás dos álbuns.”

            Minha se despediu do professor dizendo, que ele com a cabeça mais fresca encontraria, depois, os anéis, não sem antes combinar com ele um jantar após o funeral, que poderia ser lá em casa, mas ele recusou simpaticamente, ao que mamãe então sugeriu que fosse no apartamento dele e obteve sua concordância.

            Em Casa contei para ela minha conversa com a Sr.ª Burkett e que ela me confidenciara onde estavam os anéis, como sempre, ela me disse que era minha imaginação, descontente insisti, ela deu por encerrado com aquele famoso tá, tá tá.

            Há muito a lhes contar, mas prefiro fazê-lo DEPOIS ... Até a próxima.

Itaúna-MG, 27 de outubro de 2021.

 

Cláudio Lisyas Ferreira Soares

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