A TRAMA





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A TRAMA
Leonardo Sciascia

                A Itália já nos deu muitos escritores de renome, de Dante Alighieri a Humberto Eco. Uns mais conhecidos outros menos do público brasileiro, mas hoje nos ocuparemos do escritor nascido na Sicília, mais precisamente em Racalmuto.
                Leonardo Sciascia foi um crítico da corrupção política e do arbitrarismo, se posicionou radicalmente contra Mussolini, contra o regime facista e tinha pavor da máfia.
                A obra em questão é um primor, foge totalmente ao corriqueiro surpreendendo até mesmo o autor, porque ele assim se expressa em sua nota ao final:
Portanto escrevi esta paródia ... baseando em um fato verídico: ... Uma diversão. Mas a coisa começou a desviar-se do caminho: pois em certa altura a história começou a desenrolar-se num país totalmente imaginário; num país onde as idéias não serviam para mais nada, onde os princípios - mesmo sendo ainda proclamados e exaltados – eram diariamente desrespeitados, onde ideologias não passavam, na política, de meras denominações no jogo de papéis que o poder se atribuía, onde só contava o poder pelo poder.” 
                O clima do romance nos faz pensar que o autor está falando do Brasil, tamanha a similaridade, porque a corrupção está em todos os escalões, até a revolução ou os adeptos dela são tão corruptos como aqueles que eles combatem.
                A narração é na terceira pessoa, os diálogos às vezes curtos e bem construídos, outras vezes longos, mas consistentes.   
                É nesse cenário que surge o inspetor Rogas, que com o morticínio descontrolado de autoridades judiciárias, procuradores e juízes, se vê às voltas com um assassino arguto, que segundo suas suposições se trata de alguém injustiçado, que agora promove uma vingança aos seus detratores que o lançaram injustamente no cárcere apenas para justificar sua função judicante, sem se interessar pela justiça em si, de condenar quem de fato tenha cometido um crime.
                O país está acostumado a prender e condenar por suspeita para assim dar uma satisfação á sociedade e Rogas é totalmente contra estas prisões sem qualquer suporte probatório. Luta basicamente sozinho contra o sistema para dar a cada um o justo veredicto e não somente produzir mais um erro judiciário, encarcerando-se, ao final um inocente.
                No entanto seus superiores discordam de sua suposição acreditam que é mais uma manobra dos revolucionários. Enquanto isso as mortes não param e se sucedem num ritmo alucinante.
                Paralelamente à investigação, Rogas persegue sua hipótese descobrindo uma malha na qual se ligam os mortos primeiro todos trabalharam em instâncias diferentes em condenações duvidosas, confirmando-as nas instâncias seguintes e lançando no cárcere inocentes, com provas indiciárias, meramente circunstanciais. Assim raciocinando, objetivamente, o inspetor selecionou um grande número de casos em que os assassinados estiveram de uma forma ou de outra, envolvidos com os inocentes condenados. Pelo processo de eliminação reduziu tudo a um número capaz de serem verificados.
                Passou a visitar os que ainda estavam vivos e livres, gerando dos encontros diálogos sublimes até filosóficos.
                Quando o inspetor Rogas aproxima-se na praça de um de seus escolhidos inicia uma conversa sem muitas pretensões:
“- Como vai? – perguntou o inspetor...
- Não vai – disse o homem.
- Não vai o quê?
- Nada vai.
- E antes?
- Antes do quê?
 - Antes de agora, quero dizer as coisas iam?
- Nunca.
- E então?
- Então ficamos aqui.
- Sempre?
                Pode ter certeza, caro leitor, isso vai longe e é espetacular quanto conciso.
                De certo nesta obra o que mesmos importa é o resultado final que chega a ser melancólico.
                O convite está feito, atreva-se, porque é o melhor exemplo de que uma obra para ser monumental não precisa ser gigantesca, com 700 páginas, porque esta é soberba e tem apenas 117 páginas.
                Até outra oportunidade. “Arrivederci presto”.

Itaúna(MG), 02.08.2016

Cláudio Lisyas Ferreira Soares 

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