INTENSIDADE
INTENSIDADE
Dean
Koontz
O Thriller de terror é uma moda
entre os americanos, sendo seu maior representante Stephen King, mas nesta
linha do realismo aterrorizante temos também Dean Koontz, autor de vários
livros que abordam tipos insanos, loucos de verdade, capazes das maiores
atrocidades.
Os personagens são palpáveis e os
ataques paranoicos do assassino em série nos arremetem aos filmes como psicose e janela indiscreta de Alfred Hitchcock,
ou para os mais jovens ao filme paranoia
de D. J. Caruso uma espécie de repaginação do clássico acima janela indiscreta.
O autor pretende ser fiel a sua
ideia de intensidade, não foge ao desafio e leva-nos numa viagem intensa de
violência e horrores, tudo para explicar os efeitos calmantes da dor alheia na
dor pessoal do homicida.
Chyna e Laura se conheceram na
faculdade. Fizeram uma amizade improvável, Chyna introvertida, reservada, de
beleza comum, enquanto que Laura, extrovertida, alegre, expansiva, de beleza
estonteante.
De
férias resolvem ir para casa de Laura onde os pais as esperam.
Pelo caminho, Chyna insiste em pedir
a Laura para ir mais devagar, para desacelerar, a estrada é perigosa e não há
necessidade de tanta velocidade.
“É que você não conhece minha mãe”
diz Laura, “não gosta de atrasos”.
Chyna teve uma infância complicada,
sua mãe uma ninfomaníaca viciada em drogas, estava sempre em más companhias,
ora namorando um sociopata, outras vezes um drogado paranoico.
Vivia se escondendo e à medida que
ia crescendo, percebia que os interesses sexuais dos amantes da mãe estavam
migrando para ela.
Nunca esteve à vontade em sua
própria casa, não fazia amizades, sempre sozinha se permitia ir vivendo até que
pudesse se desvencilhar de tudo, quem sabe na fase adulta. E esse dia chegou,
agora, já distante da mãe e de seus indesejados acompanhantes, ela está por sua
conta e risco e certamente mais segura, mas ainda amedrontada, uma espécie de
trauma angustiante do passado.
A viagem seguiu tranquila apesar dos
ataques histéricos da amiga. Laura chegou ao destino, à fazenda em que moravam
seus pais no interior do condado.
A mãe sequer demonstrou qualquer das
impropriedades citadas por Laura e as recebeu afavelmente, muito acolhedora.
O jantar foi uma maravilha só não
teve a presença do irmão mais velho e sua esposa que por certo os conheceria no
dia seguinte, pela primeira vez sentiu o que é ter uma família saudável e para
Chyna, Laura não tinha a menor noção de quanto é afortunada.
Logo se recolheram para seus quartos
e o sono colheu-a bem rápido talvez efeito da viagem, talvez o clima sereno e
familiar do lugar, o fato é que apagou.
A madrugada ia alta quando acordou
repentinamente. Parece que ouvira gritos, algo estava errado, levantou-se sem
fazer ruído, não acendeu as luzes, e outra vez os mesmos gritos e com certeza, a
voz era de Laura.
O medo e o terror da infância invadiram
seus sentidos, arrumou a cama, e escondeu-se embaixo dela como fazia nos tempos
em que vivia com sua mãe.
Debaixo da cama viu a luz do
corredor entrar por baixo da porta, e ouviu o trinco da maçaneta se soltar.
Alguém empurrara a porta, ela se abriu totalmente, de onde estava via apenas um
par de botas de couro preto. Percebeu quando ele se aproximou. Sabia se tratar
de um estranho e teve a sensação de que “ele ia se abaixar, apoiado num joelho,
ao lado da cama”.
O torpor, a ânsia de viver e o medo
sufocante, não podia se comparar ao bloqueio que a paralisava em momentos como
esse, para sorte sua ele não se abaixou, pelo contrário, mesmo desconfiado,
saiu do recinto, crédulo de que não havia mais ninguém na casa.
No seu íntimo uma voz pedia para
socorrer Laura, mas outra dizia para fugir, se esconder e o resultado era a
apatia que a consumia física e mentalmente.
Todo o livro está mergulhado nessa
intensidade, que no caso são duas a de Chyna que a contém e a do matador que o
impulsiona.
O assassino precisa da intensidade
do ato de matar ou infligir dor a outrem para aplacar pelo prazer entorpecedor,
a dor que o dilacera.
A intensidade dos sentimentos de
Chyna é tão forte que a impede de reagir, causa-lhe náuseas, a imobiliza, mas
também a impeli a romper as amarras porque Laura precisa de ajuda, porque está
viva e o agressor ainda não terminou a chacina.
Com dificuldade ela deixa seu
esconderijo, abre cuidadosamente a porta seguindo para o corredor quando se
depara com o inimigo no limiar da escada, de costas, o susto a atordoa e ela
fica imóvel na esperança de que o maldito não se vire e a surpreenda.
Muitas emoções estão reservadas
nessas páginas, aqui é apenas um lampejo da extraordinária trajetória e da
intensidade do sofrimento humano e suas consequências.
Se você leitor não se desafiar a ler
esta obra, jamais saberá o impacto das emoções nas mazelas humanas.
Saudações e até mais.
Itaúna(MG), 14 de setembro de 2016.
Cláudio Lisyas Ferreira
Soares.
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