EM NOME DE DEUS - PARTE II





EM NOME DE DEUS – Parte II
David Yallop
            

             A trajetória do futuro Papa foi comum e silenciosa. Em 1928 entrou para o seminário Gregoriano de Belluno e foi ordenado sacerdote em 1935 para assumir dois dias depois a paróquia de Canale D’agordo, cargo em que não durou muito tempo, porque logo foi chamado para ser instrutor de religião no Instituto técnico para Mineiros. Já em 1937 foi convidado para ser o Vice Reitor do Seminário Gregoriano de Belluno, só deixando o cargo em 1947. É importante frisar que ele colheu os frutos de seu empenho nos estudos porque em 1947 graduou-se doutor em teologia sagrada pela Universidade Gregoriana em Roma. Daí em diante os rumos inesperados que a vida propõe se sucederam de forma natural e vertiginosa, tanto que em 1954 foi promovido a Vigário Geral da diocese de Belluno, já em 1958 foi consagrado Bispo de Vittorio Veneto pelo então Papa João XXIII, para em seguida cair no anonimato até 1969.
            Albino Luciani é fruto de seu tempo, surgiu na convalescência da Igreja ante os muitos desvios de conduta, pelo descuido com as atividades extra religiosas de suas ordens e instituições.
            Estamos numa Itália que brada contra a corrupção e enfrenta uma poderosa organização que não hesita em matar até juízes – a MÁFIA. E a Igreja enfrenta o descrédito por parte de muitos fiéis e há um clima de desconfiança, porque não se acredita que haja alguém capaz de promover as mudanças necessárias.
            Em 1969 a Igreja estava sob o comando do Papa Paulo VI, que apesar de parcimonioso às vezes hesitava em suas decisões, o que ficou patente no caso do Bispo de Chicago John Codi, que por duas vezes o Papa Paulo VI assinara suas exonerações e antes de enviá-las, rasgou-as, apesar do suplício da congregação americana.
            Nesta data o Papa Paulo VI recebeu uma delegação americana para discutir o ponto de vista da igreja Católica sobre o tema angustiante do controle de natalidade.
            A comissão americana insistia na necessidade de que a Igreja deveria concordar que o crescimento populacional estava fora de controle. No entanto, Paulo VI se posicionara radicalmente contra, declarando que os únicos métodos de controle de natalidade aceitáveis eram a abstinência ou do ritmo e assim a Igreja se posicionara recentemente, após a publicação em 1968 da encíclica Humanae Vitae, contrária a toda e qualquer forma de controle de natalidade.
            Com relação a esta questão o bispo de Vittorio Veneto, Albino Luciani, se manteve fiel ao Santo Padre em Roma e teceu comentários que aplacavam a ira de muitos de seus subordinados, trazendo com os mesmos certa esperança quanto ao tema e isso foi visto por observadores e pelo próprio Papa.
            Em virtude do crescente descontentamento que a encíclica trouxe e as manifestações de Albino Luciani sobre a mesma, o Subsecretário de Estado do Vaticano, Giovanni Benelli, astuto como era, buscou uma aproximação do bispo ainda desconhecido das massas e tal amizade renderia profundas consequências.
            Com a morte do Cardeal Urbani, Patriarca de Veneza, o nome lembrado foi o de Albino Luciani, que num primeiro contato recusou polidamente, pois pretendia permanecer com seu trabalho em Vittorio Veneto. Então coube ao Papa buscar outro nome e nesse caso as intensões recaíram sobre o Cardeal Antonio Samore, mas a notícia em Veneza causou forte reação por parte de toda a comunidade católica, uma vez que o reacionário Samore era completamente indesejado pela Igreja local, daí na famosa dança de Paulo VI, investiu ele novamente sobre Albino Luciano que consternado aceitou, gerando uma alegria inominável nos membros da comuna veneziana.
            Sabendo o quanto é às vezes maçante ler uma biografia, procuro aqui apenas mostrar alguns detalhes da obra, que é muito mais monumental e detalhada do que este breve relato.
            Minha sugestão é que façam a leitura do livro, tire suas próprias conclusões, seja imparcial, abandone as paixões e tenha em mente o que nos disse “Maupassant” – A VIDA SABE MELHOR IMITAR A ARTE, DO QUE A ARTE SABE IMITAR A VIDA.
            Pretendemos encerrar na próxima...   
            Itaúna(MG), 29.12.2016.


Cláudio Lisyas Ferreira Soares 

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