DEVORADORES DE MORTOS
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DEVORADORES DE
MORTOS
Michael Crichton
Quase
ninguém associa Michael Crichton aos seus trabalhos e por isso quase sempre ele
passa despercebido do grande público, diferentemente de sua obra.
Ele
escreveu vários livros e ficou conhecido como o responsável pelo que chamamos
hoje de romance tecnológico.
Seu
primeiro grande sucesso foi O ENIGMA DE ANDRÔMEDA, mas a fama e o que o tornou
uma celebridade foi O PARQUE DOS DINOSSAUROS, esses romances tiveram seus
direitos autorais negociados com grandes estúdios de cinema e foram uma febre
entre os cinéfilos.
O
livro acima também virou filme, Hollywood apostou numa versão cinematográfica,
que obviamente não teve a dimensão dos demais citados. Confesso que vi o filme
e não me entusiasmei, porém o livro trouxe detalhes que escapam por assim dizer
à adaptação para o cinema.
É
uma obra diferente das demais de Crichton, porque não está ligada a tecnologia,
sendo muito mais uma pesquisa histórica, porque baseia-se num achado
arqueológico, o manuscrito de Ahmad Ibn Fadlan,
emissário do Califa de Bagdá, que foi enviado como embaixador aos búlgaros.
Acontece
que a expedição nunca chegou ao seu destino porque no caminho encontrou um
grupo de nórdicos envolvendo-o em aventuras que mais tarde foram relatadas em
documento oficial ao Califa al-Muqtadir.
De
fato é curiosa a empreitada, porque o escriba vai enfrentar inúmeras
dificuldades, o clima, o idioma, os costumes, a religião, a culinária, sem se
falar em acomodações, despesas, animais para deslocamento, enfim tudo que um
árabe naqueles idos de 922 d.C. poderia padecer fora de seu ambiente natural.
Apesar
dos desafios não me parece que se poderia recusar o “privilégio” de servir ao Califa
então a expedição começa. Foram providenciados meios de transporte, servos para
acompanhá-lo, víveres, recursos financeiros, o que não ameniza em quase nada o
impacto cultural e as intempéries do frio escandinavo.
Segundo
o documento o rei dos Saqalibas, Yiltawar, solicitara em carta que o califa lhe
enviasse alguém capaz de instruir e familiarizá-lo com as leis do islã. O
interesse era de que essa pessoa fosse capacitada para converter todo seu reino
e distritos ao islamismo e inclusive construir uma mesquita.
Quanto
mais ao norte a comitiva se dirigia mais expostos a outros povos ficava. Descreve
o encontro com os turcos oguzes referindo-se a eles como asnos extraviados, diz
que seus hábitos de higiene praticamente, não existem, tanto que não se lavam
após defecarem ou urinarem, nem se banham após a ejaculação, ou em qualquer
outra ocasião.
Por
se distanciarem tanto e sempre em direção ao norte defrontam-se com os Vikings,
que num primeiro contato causou forte impressão: “nunca vi um povo tão
gigantesco. (...) Cada nórdico carrega um machado, uma adaga e uma espada e
nunca são vistos sem essas armas.”
Ahmad
Ibn Fadlan, diz que os viu chegar em suas embarcações no rio Volga, estranhando
suas vestimentas e hábitos com as mulheres. Reuniam-se em volta da mesa e não se
envergonhavam de bolinarem suas mulheres na presença de todos, o que para um
mulçumano era uma afronta à sua moral, enquanto que para eles, os nórdicos, o
comportamento do árabe era como o de velhas que estremecem ante a visão da
vida.
Presenciou
o funeral de um chefe Viking. Alguns dos escandinavos passaram a suspeitar de
Fadlan tendo-o por feiticeiro e para amenizar a situação foi sugerido que após
o enterro do chefe ele seguiria viagem com o grupo. Assim em face das
consequências do inusitado encontro teve que seguir viagem com os nórdicos rio
acima, desviando-se da real incumbência dada pelo Califa.
Mas
o surpreendente no livro é que o escritor adota uma narrativa em forma de documentário
romanceado, preenchendo as lacunas que o texto original por estar fragmentado
não permite ter ideia clara, mas que segundo o manuscrito e outros textos
correlatos formam a imagem dos fatos.
O
ponto culminante da obra é o contato com as criaturas conhecidas como wendol,
que para os países nórdicos quer dizer “a névoa negra”. É que “sob a cobertura
da noite”, a névoa, “traz demônios negros, que assassinam, matam, e comem a
carne dos seres humanos. Os demônios são peludos e repulsivos ao toque e ao
cheiro; são ferozes e astutos; não falam a língua de nenhum homem e ainda assim
conversam entre si;”
O
embate é narrado no manuscrito, porque a aldeia para a qual se dirigem foi alvo
de ataques dessas criaturas. O livro questiona se o manuscrito não é uma
fábula, ou se as criaturas de fato existiram, se não são elas o último elo com
a pré-história.
Sei
que se você se interessa pelo assunto, o livro é muito melhor que o comentário,
bem melhor que o filme e vale a leitura do incidente que levou um árabe a ter
contado com os nórdicos e com estranhas criaturas conhecidas por wendol.
Valeu
a pena cada página espero que seja o mesmo para você.
Itaúna(MG),
12 de abril de 2017.
Cláudio lisyas Ferreira Soares
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