O BEIJO NO ASFALTO



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O BEIJO NO ASFALTO
Nelson Rodrigues
         Falar de literatura brasileira e principalmente de dramaturgia sem se falar de Nelson Rodrigues é falar de coisa nenhuma.
         Nelson revolucionou o teatro brasileiro, tendo produzido nada menos que dezessete (17) peças de teatro.
         O furacão Nelson, um fenômeno cataclísmico sem precedente, era desbocado, debochado, cerebral, visceral, tudo isso e mais alguma coisa.
         Não tinha pudores para falar do que quer que fosse. Homem do tempo presente. Comentava e criticava a sociedade de seus dias, que considerava hipócrita, rançosa, incoerente e preconceituosa.
         Nessa peça, ele está soberbo, faz uma crítica social de peso. Usando seu bisturi ele expõe ao leitor uma cena que se não fosse circunstância alheia ao fato passaria incólume.
         1961. Praça da bandeira – Rio de janeiro.
         Centrão, um burburinho só, gente passando por todo lado.
         Um pedestre, distraído. Uma lotação, o descuido e o atropelamento, eis um corpo estatelado no chão.
         Fato comum em metrópoles, não fosse o incontrolável desejo, que acometeu outro homem, ARANDIR, de beijar os lábios do falecido transeunte.
         Ora até aí, nada, mesmo naqueles tempos.
         Nesta obra Nelson fala da imprensa sensacionalista, da corrupção da polícia e de preconceitos sexuais.
         Os desdobramentos são fruto de coincidências. O delegado de polícia “CUNHA” está mordido com o jornalista Ribeiro. A publicação da matéria em que ele fez uma mulher grávida perder o filho o deixou furioso. Mas, Arrubinha o escrivão, desavisadamente anuncia a chegada do jornalista. Ah! E acompanhado de fotógrafo.
         Ribeiro foi à delegacia e viu aí a oportunidade de fazer as pazes com o delegado, é que veio entrevistar o beijoqueiro do episódio da Praça da Bandeira.
         Cunha tinha raciocínio curto, mas nada melhor do que um jornalista inescrupuloso para aclarar suas ideias, assim convencido de que seria uma boa escaramuça, passa ao interrogatório.
         Se fosse um homem beijando uma mulher falecida, seria o macho da vez, mas beijando um homem, bom o veredito é outro – VIADO, coitado, Arandir não é nada disso apenas teve um impulso e fez, não conhecia a vítima, nunca a tinha visto, só quis beijar e beijou.
         A imprensa presente, o beijoqueiro apertado e suando, então o fotógrafo aproveita e tira a foto, enfim a reportagem é publicada, primeira página, título perturbador “O BEIJO NO ASFALTO”.
         Nelson nos levará a refletir nas consequências de nossas decisões.
Porque não nos preocupamos com elas?
Temos o direito de destruir pessoas para salvar nossas peles?
         Dessa vez achei interessante mostrar o alcance deste trabalho de Nelson Rodrigues, trazendo imagens de duas publicações distintas é que esta peça foi publicada em formato de livro para ser lido como o texto comum de teatro com as divisões e diálogos próprios, que é a primeira capa que ilustra este comentário e a segunda que é uma adaptação em quadrinhos realizada pelos cartunistas Arnaldo Branco e Gabriel Goés, certamente uma inovação que dá maior visibilidade do autor para as novas gerações.
         Qualquer dos formatos que forem lidos dará a dimensão e o impacto do universo rodriguiano, verá a atualidade do tema, perceberá a profundidade com que é tratado o assunto e o quanto ás vezes em nossos julgamentos somos absolutamente levianos e preconceituosos.
         Não se furte caro leitor, de viajar nas páginas dessa obra, porque esse monumento artístico é um lampejo da genialidade de Nelson Rodrigues.
         Até mais ver.
Itáuna (MG), 13 de abril de 2017.


Cláudio Lisyas Ferreira Soares.

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