A LUA NA SARJETA
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A
LUA NA SARJETA
David
Goodis
Num desses últimos feriados que
tivemos, procurava à tarde, uma leitura que me prendesse mais do que o jogo da
seleção em final de copa do mundo.
Foi então que me lembrei do desejo
antigo de ler mais um dos romances de David Goodis, pois já lera A GAROTA DE
CASSIDY e comprara o famoso ATIRE NO PIANISTA e o não menos famoso A LUA NA
SARJETA.
Olhando a estante diante de mim, me
deparei com exatamente este romance.
Ele se passa em meados dos anos
cinquenta, período pós-guerra, os EUA viviam a recuperação do impacto de
guerra, a vida voltara ao normal, as pessoas se esforçavam para se contentar
com suas vidinhas, principalmente as moradoras dos guetos ou subúrbios.
O desemprego assolava, a economia
ainda fraquejava, e os homens lutavam ou se entregavam aos vícios e certamente
William Kerrigan era um dos que lutavam, mas naquele dia ou melhor naquela
noite ele estava parado novamente na viela que dá para a Vernon Street. Vinha
fazendo isso rotineiramente há uma semana.
Ali no silêncio noturno, a lua se
refletia na poça de lama na calçada e próximo a ela a marca de uma mancha de
sangue maculava a sarjeta. Acendeu um cigarro enquanto tragava, pensava, e se
perguntava quem fora o insano e maldito homicida de sua irmã, porque se pensam
que ele engolira a presepada de que ela suicidara, podiam tirar isso de suas
cabeças, porque ele não tirava e a certeza de que fora assassinato só
aumentava.
Mas por onde começar, ninguém viu
nada, ninguém sabia nada e os que sabiam não lhe contariam nada, a não ser que
ele saísse por aí esmagando alguns crânios e estragando algumas caras, mas isso
dá trabalho, faz muito barulho e chama a atenção da polícia, tem que haver outro
meio.
Enquanto estava parado no beco
sentiu a presença de outra pessoa e ao virar-se deparou com Frank seu irmão
mais novo. Foi logo perguntando que faz aí me olhando? Frank respondeu que nada
ele é que queria saber o que se passava na cabeça de William e lhe disse para
esquecer a irmã, pois todos sabem que ela não suportou esse lugar, não era como
nós.
William desconfiado disse: você sabe
o que aconteceu aqui há sete meses.
Ora, William, você bem sabe eu
não sei de nada.
Frank foi direto ao assunto e
justificou sua presença dizendo que estava à procura do irmão e para William
isso só podia ser uma coisa “grana”.
E quanto você precisa?
Cinquenta dólares.
Deixa por cinquenta cents?
Pode ser. Serve.
Todos já sabem, Frank vai à Toca
do Dungan, uma espelunca perto do cais, mal frequentado, mal afamado, lugar de bêbados
e prostitutas, enfim a escória. Nada que interessasse a Kerrigan, até que Frank
lhe confidencia sobre a presença de um playboy que anda frequentando o local
desde a morte da irmã.
Era o início do anoitecer, a lua estava cheia e
a iluminar todo o quarteirão, estava ficando tarde. Amanhã trabalho duro no
porto e um estivador tem que dormir para recuperar suas forças, além do mais
todos em casa precisam e vivem do seu trabalho, o irmão não trabalha o pai por
sua vez também não trabalha vive apenas de alguns aluguéis, mas os inquilinos
não pagam há quatro meses, deixando sua madrasta irritada e tem Bella a filha
da madrasta que também mora lá, enfim a casa virara um cortiço.
O clima entre ele e Bella estava
tenso, pois ela queria que Willian tomasse uma decisão assumindo-a de vez, mas
ele não estava interessado em assumir mais responsabilidades.
Não fosse o acidente com
engradado que caíra e quebrara-lhe as duas pernas talvez Catherine estivesse
viva e essa culpa indireta o consumia e o fazia voltar constantemente ao beco.
Agora estava mais curioso com o
playboy e outro dia, faria ele mesmo uma visita à Toca do Dungan para ver se
descobriria algo de valor para acalmar suas suspeitas.
Esta meus amigos foi uma leitura
de quase duzentas páginas feita numa só sentada. Pois li este livro de capa a
capa naquele feriado.
Aconselho a leitura a qualquer um
que goste de um livro sem rodeios e trololós, mas principalmente aos amantes do
romance policial, com aquele clima de suspense, sem detetives e com grande
carga emocional, fora a pancadaria e o ambiente lúgubre próprio da periferia
nos anos cinquenta.
Por hoje é só. Ah! Esta obra
também foi filmada nos anos oitenta – 1983, pelo cineasta francês Jean-Jacques
Benieix, com Nastassia Kinsky e Gerard Depardieu nos papéis principais.
Itaúna (MG), 10 de maio de 2017.
Cláudio Lisyas Ferreira Soares.
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