O PASTOR




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O PASTOR
Frederick Forsyth

         Este não foi o primeiro livro de Frederick Forsyth que comentei, mas foi o primeiro que li desse fabuloso autor.            
            Diversamente da impressão que me causou o primeiro livro comentado, este foi uma grata surpresa, porque foi além das expectativas e de certa forma revelador.
            Trata-se de uma novela contada em primeira pessoa, o nome deveras à primeira vista pode levá-lo a concluir que é um livro religioso. Conhecendo o autor você ficará tentado a tirar a prova e descobrirá que não é este o caso, sem deixar de sê-lo.
            Estamos em dezembro de 1957, mais especificamente na noite de natal.
            Charlie piloto da RAF está prestes a decolar. Pretende passar a noite de natal em solo britânico reunido com sua família, onde todos o aguardam.
            A base aérea de CELLF fica na Alemanha Ocidental e isto significa cruzar o canal da mancha, certamente uma travessia auspiciosa, que já fora feita outras vezes.
            Na torre de controle todos já estão se dirigindo para seus lares e o operador não vê a hora de encerrar o expediente, para isso basta liberar a pista para Charlie.
            O jato que pilota recebe a chamada “Charlie Delta” e para isso responde “Charlie Delta... Controle” recebendo assim: “licença para levantar voo.”.
            O vampire está a caminho e o motor Goblin começa a dar o ar da graça, pois o gemido baixo passa a soar como um ronco até virar um grito e por fim um clamor. Já tinha tudo planejado e revisado estacionaria a altitude de 8.000 metros e mantendo a rota era só observar a velocidade de 458 nós e ao passar pelo espaço aéreo holandês mudar para o canal “D” informando minha presença, daí rumo ao mar do Norte e completar a travessia.
            Segundo o plano todo o trajeto seria superado com sessenta e seis minutos de voo e o Vampire tinha combustível suficiente para ficar oitenta minutos no ar, então dava com sobra.
            Dei uma conferida na bússola elétrica e fixei num rumo de 265 graus, tudo corria tranquilo, já passara o território holandês e adentrara o Mar do Norte. Tínhamos um tempo de voo de 21 minutos.
            Com dez minutos sobrevoando o Mar do Norte compreendi que tinha um problema, não “havia percebido que o barulho murmurante” cessara nos fones e que só tinha um vácuo de silêncio total.
            Foi quando conferi a bússola, ela girava para leste, oeste, sul e norte com absoluta imparcialidade.
            Nervoso e completamente fora do espírito de natal roguei uma praga à bússola e ao homem de controle de qualidade que aprovara o funcionamento de cem por cento do aparelho.
            Sem bússola seria uma navegação às cegas apesar da visibilidade absoluta dado pelo luar deslumbrante. No entanto, não se pode esquecer que ainda assim seria pilotar à noite, sem referência, porque acima o céu abobadado e em baixo o mar revolto.
            Mesmo com o desfavor da sorte, a coisa não era muito grave, porque em breve poderia chamar Lakenheath pelo rádio e eles me dariam instruções de segundo em segundo até efetuar o pouso sem maiores problemas, o que para um aeroporto bem equipado não era nenhuma dificuldade até com o pior tempo imaginável.
            Olhei o relógio e vi que se passara trinta e quatro minutos desde a decolagem. Pela minha orientação e consultas ao mapa poderia contatar Lakenheath que deveria estar ao alcance do rádio, contudo o procedimento regular era informar o Canal “D” em que estava sintonizado para que avisassem o controle aéreo de Lakenheath sobre o meu voo sem bússola.
            “Apertei o botão e chamei:
- Charlie Delta Celle, Charlie Delta Celle chamando Controle de Norte Beveland...”.
            O silêncio e a sensação de ser o único a me ouvir começavam a tirar do sério os nervos, então parei e conclui que não adiantava prosseguir com a tentativa de contato, agora também estava sem comunicação, o rádio não funcionava, realmente estava por minha conta.
            A habilidade do escritor de mostrar o sentimento de isolamento do piloto em sua carlinga e o inevitável retrospecto que o incidente provoca no personagem, sem se falar na necessidade de por em prática tudo que se sabe sobre o seu ofício leva-nos a ser passo a passo o aflito condutor da aeronave.
            A partir desse momento a vida parece ser aquele jato rumo ao desconhecido, com destino incerto e da minha janela faço essa viagem olhando à minha frente um mar de túmulos para onde às cegas e sem comunicação navego, diretamente para o meu derradeiro fim.
            Leitores de plantão, esta novela que fala romanticamente da guerra fria, de um mundo dividido entre capitalismo e socialismo, temos o espetáculo da vida, de suas incertezas e do desafio que é enfrentar as adversidades com esperança de que haja uma luz no fim do túnel.
            Convido você para sentar-se atrás do manche e decolar com Charlie para a inesperada aventura na noite estrelada do Mar do Norte.
            Até segunda ordem, porque voltaremos.
Itaúna(MG),  28 de setembro de 2017.
Claudio Lisyas Ferreira Soares.

             

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