UMA ESPOSA CONFIÁVEL
Imagem tirada do Google imagens
Uma esposa confiável
Robert Goolrick
Toda
leitura é válida, seja ela uma revista, um gibi ou um livro, mas há leituras e
leitura, assim como há livros e livro sendo este o caso, de o livro.
É muito prazeroso ler um livro maduro de um escritor
também maduro.
Esta obra é
um drama e há quem não goste, como há os que só gostam se for o mais próximo da
realidade, não que toda a realidade seja um drama, mas a vida é mais dramática
do que possa imaginar vossa vã esperança, isto parafraseando Shakespeare.
O autor me é
um estranho, um desconhecido, por isso uma agradável surpresa, na verdade um
banquete, tem escrita primorosa, argumento extremamente válido e coincidências
à parte, comecei a ler este livro quando estava com cinqüenta e quatro anos e a
identificação com o personagem central foi instantânea e não só porque tinha
ele também cinqüenta e quatro anos.
E por falar
em drama a vida de Ralph Truit já tivera uma dose bastante forte de tragédia, a
ponto de aos trinta quatro anos haver abdicado de uma vida conjugal.
Perdera em um
acidente mulher e filhos e a partir de então vivia para si e suas empresas.
Preocupava-se com as pessoas de sua cidade dava emprego para a maioria delas pois
“trabalhavam para ele de um jeito ou de outro: na fundição de ferro, derrubando
árvores, minerando, subindo o valor das vendas ou dos aluguéis, comprando ou
vendendo.”
Era amado por alguns e odiado por outros, mas ninguém
se atrevia a ignorá-lo, porque ele era o dono da cidade e de certa forma de
suas vidas.
Aquela manhã, porém, estava fadada a
ser diferente, seria um marco na vida de “Truit”, porque um belo dia ele
percebera que estivera se enganando há muito tempo, porque quem disse que ele
não tinha o direito de ter a companhia de uma mulher, enfim de sexo.
Toda noite ao
longo daqueles anos se recolhera à sua cama onde a solidão o massacrava e ele
pensava em todos se fechando na alcova de seus quartos onde extravasavam suas
luxúrias, enquanto ele só podia invejá-los amofinado na solidão.
Ralph não
saberia dizer como a notícia vazou, mas todos sabiam que o trem traria uma
mulher e que ela era aguardada com muita expectativa por Truit, e por todos os
lugares em que passou pôde ver nos olhos e perceber nos cochichos maliciosos a
tensão que o acontecimento trazia àquele 17 de outubro de 1907.
Marcara
encontrá-la às quatro horas na estação ferroviária, mas o trem estava atrasado.
No trajeto
entre sua casa e a estação lembrava que “Houve uma época em que se apaixonava
em cada esquina. Perseguia coisas tão pequeninas quanto uma fita encantadora ou
um chapéu. Um andar leve, o roçar da barra de uma saia, uma mão enluvada
espantando uma mosca de um nariz sardento haviam sido suficientes, haviam
outrora sido o que era preciso para fazer disparar o coração.”
Depois de
tudo uma coisa era certa “O trem viria atrasado ou não, e tudo que havia
acontecido antes de sua chegada seria antes, e tudo que viesse depois seria
depois.”
Decorara a
carta que ela lhe enviara, entendia que a mulher da foto era simples,
desprovida de beleza, mas que também não era feia, amara mesmo sua sinceridade
e estava apaixonado, não podia explicar como e porque, mas estava ansioso como
um colegial, suas pernas estavam bambas, mostravam sua insegurança e as
palavras da carta soavam claramente em sua mente: “Sou uma mulher simples e
honesta. (...) Vi doenças mortais além do que é imaginável. (...) Não sou uma
menininha. Passei a vida sendo filha e há muito tempo desisti de qualquer
esperança de ser esposa. (...) e se o senhor me aceitar, eu irei.”
Pois é o
convite está feito, se você quiser esta será uma leitura inesquecível, com um
final inimaginável, dramático, mas honesto.
Itaúna (MG),12 de outubro de 2017.
Cláudio
Lisyas Ferreira Soares.
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