A REUNIÃO
A REUNIÃO
Simone Van Der Vlugt
Sou o tipo de leitor que dá oportunidade ao novo,
diferente. Leio costumeiramente gente não muito conhecida, de países pouco
destacados na literatura, isso sem falar de gente nova no mercado nacional. Se
a experiência não der certo não comento, se for boa e não precisa ser excelente,
vou comentar e recomendar a leitura, é assim que me sinto honesto com o que li,
porque se não gostei outro pode gostar e leitura é como comer é uma questão de
paladar.
Foi assim com este livro, nunca ouvira falar da autora,
de nome impronunciável e que não é muito conhecida por aqui. Ela é uma
escritora holandesa nascida em 1966 na cidade de Hoorn.
Simone é escritora de livros históricos para jovens
adultos. Esta é sua estreia noutro gênero, o do romance psicológico.
A memória pode te trair, falhar, ser bloqueada, enfim não
é nada confiável. Esse é o dilema de Sabine, ela sofre de uma espécie de
amnésia, não se lembra claramente dos fatos que envolveram o desaparecimento de
sua amiga de infância Isabel.
Às vezes vem imagens distorcidas da última vez que a viu,
ela estava em sua bicicleta e Sabine a seguia a certa distância quando uma van
se interpôs entre ela e sua amiga, ali no sinal de trânsito fechado Isabel se
distancia e a van ao arrancar com a abertura do sinal levanta muita poeira
embaçando sua visão, só dando para perceber quando Isabel foi em direção às
Dunas Escuras. Depois disso nada mais e nada mais mesmo, porque nunca voltou a
ver a amiga e nunca ela retornou para casa.
Os anos passaram e o que se sabia era que desaparecera
naquele dia, havia cartazes por toda parte com foto dela e telefone para
contato, mas após nove longos anos nenhuma notícia, nenhum telefonema e Sabine
se sentia culpada, porque não conseguiu cumprir o que prometera a mãe de
Isabel, que iria cuidar dela.
Esse compromisso foi assumido porque Isabel sofria de
epilepsia e a mãe só deixava ela sair se a amiga assumisse a responsabilidade de
ajudá-la caso ocorresse um ataque epiléptico. Os acontecimentos da época
deixaram Sabine sem condições de voltar a casa de Isabel, não tinha como
encarar sua mãe, afinal ela dissera à polícia que a seguiu até quando ela se
dirigiu para as Dunas Escuras e depois não se lembrava mais do que havia
ocorrido.
Agora os colegas do colegial anunciaram uma reunião da
turma e as lembranças voltaram vivas e claras, passou a sonhar com a van e a
última visão da bicicleta com Isabel direcionando-a para as Dunas Escuras. Hoje
com 23 anos trabalhando em um Banco pensava ter superado tudo e na verdade tudo
voltou assustadoramente mais aterrador do que quando os fatos aconteceram.
Estava decidida de que não precisava daquilo e não estava disposta a ir nessa
maldita reunião.
No emprego depois
de um afastamento pela previdência descobriu que a vaga de chefia pretendida
estava ocupada pela Renée, quem justamente tinha sido levada por ela para
trabalhar no Banco e agora se tornara o terror, vivia no seu pé, a impressão é
que ela estava pressionando para que Sabine pedisse demissão e isto era
horrível.
Costumeiramente tinha o desejo de ir até as Dunas Escuras
e depois que seu irmão mudou se sentia muito solitária com recordações não
muito boas e por vezes angustiantes, porque insistentemente via Isabel caída na
areia. Lembrou também que haviam brigado e que não eram mais amigas como sempre
pensara. As coisas andaram mal à medida que Isabel ficava mais popular e não
queria um anjo da guarda. Com sua insistência em cumprir o voto feito à mãe de
Isabel tudo ficou insuportável, porque foi aí que o bullying começou. Sabine se
afastou, mas não se livrou dos assédios a ponto de seu irmão ter que ir
buscá-la na escola.
Esse é o tipo de livro que o leitor precisa ser
persistente uma vez que tudo vai meio arrastado até a página 100, para então acelerar
e decolar.
Nada é o que parece e o final faz valer a pena. Bem
vindos ao mundo interior de Sabine, de suas reflexões, de seu resgate de
memória, do encontro com suas verdades.
Itaúna-MG, 19 de
julho de 2020.
Cláudio Lisyas Ferreira Soares.
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