QUANDO SE ENCONTRA O HORIZONTE


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QUANDO SE ENCONTRA O HORIZONTE

Joana Lopes

 

            Estamos de volta, falo isto porque me aventurei a falar de política e também de música, num espaço no qual só falava de leituras. Pois bem, retornamos para o mundo da literatura.

            Temos aqui em mãos o romance inaugural de Joana Lopes, escritora mineira, da gema, nascida em Belo Horizonte. Tenho que, primeiramente, agradecer ao Dr. Alex Matoso, Juiz na comarca de Itaúna, por me emprestar esta obra e pela paciência de esperar que a lentidão do leitor pudesse se apropriar da narrativa sublime dessa autora.

            Gosto muito de escritores novos, que dão os primeiros passos no mundo das letras. Gosto especialmente do arrojo de muitos desses iniciantes na bela arte de escrever e no caso da escritora em questão se mostrou bastante madura e segura na condução da história.

            Em “Quando se encontra o horizonte” estamos falando de um drama, de uma tragédia moderna, bastante intrincada.

            Alguém tem uma lembrança recorrente há exatos 17 anos. Incômoda é essa repetição interminável e conviver com isto tem se tornado um martírio para Rodrigo. Além do mais se tornara o tema de discussões em sua terapia e que no final nunca chegaram a lugar algum. Intrigava mesmo era o fato de que se passava sempre no mesmo elevador, com a mesma mulher, cuja fisionomia alternava com os rostos de mulheres conhecidas, seja âncora de um telejornal, seja a do caixa do banco, no entanto, ele sabia que se tratava da mesma mulher.

            Não havia dúvidas que o sonho repetitivo era resultado do acidente aéreo ocorrido há tantos anos, chegou ao disparate de desconfiar de sua conduta no passado, talvez fosse um “relacionamento infiel com sequelas espúrias”. Ficou tão fissurado com tudo aquilo que passou a anotar dados, como nomes, data do sonho, a quantidade de pessoas no elevador, o andar em que parava, além de sua trajetória, enfim foram anos catalogando pormenores, que por não produzirem nada, se perderam pelo tempo.

            A memória é assim mesmo, não é intacta, normalmente é fragmentada e não é uniforme, geralmente lembramo-nos de coisas que nos deram imensa satisfação ou que em contraponto nos causaram profunda angústia. Não nos lembramos sequer de um dia inteiro ininterruptamente, cada minuto ou segundo dos acontecimentos, aliás considero isto uma dádiva de Deus, porque já pensou ficar lembrando de todos os pormenores do que já aconteceu impedido de viver novas experiências, entendo que seria uma prisão no tempo.

            A amnésia porém, se torna um abismo intransponível para alguns, porque para Rodrigo ser quem se é, é antes de tudo ter um passado e ele não o tinha, porque não se lembrava de nada do seu passado, este lhe era uma tela em branco, um apagão total. Apenas lhe sobrara aquele sonho, uma recordação que o fazia sentir-se alguém. O problema era a dúvida, se aquilo era parte de sua vida anterior ao acidente ou apenas um pesadelo, que o perseguia e se fixara na sua alma como uma nódoa.

            A busca incessante por uma resposta só era aplacada com a volta para casa e quando ouvia aquele Oiiii seguido de um abraço, acalmando o descontentamento causado pela falta de memória, pois o trazia de volta ao presente com aquele suave pensamento de que se não tinha como se lembrar do ontem, certamente teria do que se lembrar no amanhã, até porque já se foram 17 anos e ali na sua frente estava Laura a sua tábua de salvação, a razão de sua vida e que fazia valer a pena continuar, mesmo desmemoriado, além do mais também tinha Ana um porto seguro e a sensação certa de que há sempre para quem voltar.

            Insisto que, mesmo que tenha lhe revelado alguma coisa, não lhe disse “da missa a metade” como se diz por aqui, o livro guarda reviravoltas que o surpreenderão meu caro leitor. Dê-se uma chance e compartilhe desta história emocionante, pois vou aconselhar-lhe – PERMITA-SE.

Itaúna, 11de novembro de 2020.

Claudio Lisyas Ferreira Soares

 

 

 

       

 

              

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