CASEI-ME COM UM MORTO
Imagem tirada do google imagens
CASEI-ME COM UM MORTO
Cornell Woolrich
Outro romance noir, bastante peculiar e que inicialmente
a ideia que se tem é de que estamos diante do que se costuma chamar hoje de
comédia romântica e cujo enredo não nos levará às coisas comuns do romance
policial da linha já mencionada.
Temos aqui aquela situação pitoresca, uma jovem
surpreendida pela gravidez, resultado de sua aventura com um sujeito
inescrupuloso, que tendo o que pretendia, deixou-a às suas próprias custas.
Alguns comumente se referem a isso como gravidez
indesejada, o que não nos parece ser bem o caso, porque ela não tem nem nunca
teve o interesse de retirar a criança e agora com seus oito meses de gravidez e
tendo sofrido o penoso golpe de saber que o pai não tem a menor intensão de
assumir o filho, resolve escafeder-se dali e ter a criança bem longe daquele
pulha, a quem não se pode dar o luxo de chamar de pai.
Daí arruma suas malas, compra passagem de trem e se
dirige a estação ferroviária no centro de Nova York, para um destino bem longe
dali, a Califórnia. Sabe que é uma ultrajante quantia e não tem a mínima
intensão de permitir, que tal circunstância a impeça de sumir de vez.
A estação está superlotada, um tumulto, todas as pessoas
parecem estar dispostas a deixar a cidade e tinha que ser logo hoje. Afora a
dificuldade de locomover-se entre a multidão, tem o fato de que a gravidez
àquela altura já se faz penosa e a mala está pesada, pois abarrotada de
pertences, que embora fossem poucos eram demasiados para uma viagem naquelas
condições.
Com muito custo adentra o vagão e se ajeita como pode no
corredor. Não há lugar, todos os assentos estão ocupados, daí a solução é
colocar sua mala no piso e sentar-se sobre ela escorando o ombro no encosto do
assento próximo, que apesar de desconfortável não pôde impedir que a fadiga
levassem-na a adormecer do jeito que estava.
A sorte de uma pessoa costuma mudar repentinamente e de
uma só vez e foi assim que incomodada pela insensibilidade do marido é que uma
passageira vendo-a dormindo no corredor insistiu com seu cônjuge, para que
cedesse o lugar à grávida sentada sobre a mala.
Foi assim que ele dirigiu-se a ela dizendo:
“- Fique com o meu
lugar senhorita”
Acanhada e agradecida ela recusou mesmo sendo convidativo
aquela assento aveludado. Adiantou pouco, porém, sua objeção porque a mulher
que estava ao lado do distinto cavalheiro disse:
“- Vamos logo querida
senti aqui.”
Não havendo outra medida a ser tomada assentou-se ao lado
da generosa passageira e começaram a confabular.
É claro não podia ela imaginar que encontraria naquelas
condições outra mulher que estivesse como ela grávida e de oito meses, mas
obviamente ela não estava tão radiante quanto sua companheira de viagem, porque
“os dois eram jovens. Bem, ela também. Mas os dois eram felizes, alegres
gozando as bênçãos do mundo e essa era a diferença entre eles e ela.”
Porém antes de se apagarem as luzes por volta das dez
horas da noite elas já haviam se tornado velhas amigas e confidentes.
Patrícia era falante e desinibida, enquanto que Helen
nossa protagonista, era tímida e reservada, o que não foi capaz de
impossibilitar o entrosamento, tanto que logo, logo, Pat falou com o marido
para ele ficar perto do banheiro e quando este vagasse fizesse um sinal para
elas poderem se retocar.
Não tardou e ele acenou para elas e assim as mesmas foram
para o banheiro com aquela parafernália própria das mulheres, batom, rouge,
laquê e rímel.
Foi quando já lá dentro as luzes piscaram e o trem
balançou ...
Acordou dias depois e uma luz forte estava no teto e ela
sabia, não era do trem ... afinal que lugar era aquele, como havia chegado ali,
ou melhor o que foi que aconteceu?
Meus caros amigos tomei a liberdade de contar do meu
jeito a história, certamente você vai gostar mais do modo como Cornell Woolrich
conta-nos, mas uma coisa é certa, você vai até o fim querendo ou não porque não
conto mais nada.
Itaúna,
20 de março de 2022.
Cláudio Lisyas Ferreira Soares
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