A VIAGEM DE JAMES AMARO
Imagem tirada do google imagens
A VIAGEM DE
JAMES AMARO
Luiz Biajoni
De uns tempos para cá tenho me dedicado a
leitura de romances, novelas e contos nacionais, de preferência aqueles de
autores jovens, não tão conhecidos do grande público, pertencentes à nova literatura
brasileira, por fim mais contemporâneos.
Garimpo obras bem recebidas pelos leitores e
neste caso não importa o tema, ainda que haja algum desconforto ou me tirem do
sério às vezes, vale mesmo é a descoberta, de preferência o inusitado, por que
do esperado já li bastante.
E nessas incursões deparei-me com este autor,
para mim desconhecido, mas com boas referências, sendo portanto, um legítimo
representante desta nova casta de escritores brasileiros.
Luiz Biajoni é natural de Americana, estado de
São Paulo e escreve a algum tempo, que eu saiba desde 2007, quando publicou o
livro Virgínia Berlim- uma experiência, então pelo que se percebe é um autor do
Século XXI. O livro em questão A VIAGEM DE JAMES AMARO é uma publicação de
2015, pelo menos é a edição que tenho em mãos, devidamente autografada quando
de seu lançamento, cuja dedicatória diz: “Para a Gabi, gigante beijo do Luiz Biajoni (assinatura do autor).
O livro tem 156 páginas, mas a estória tem
apenas 132 páginas distribuídas em sete capítulos com seguintes nomes: 1. Eu e
ele; 2. Início; 3. James Amaro; 4. Meio; 5. Alex Viana; 6. Fim; 7. Ele e eu. A
proposta do autor é lúcida e se desenrola na mão e contramão, distribuindo o
enredo entre seus protagonistas, que são ao longo da narrativa desconstruídos e
construídos para um final revelador.
A escrita de Biajoni é pegajosa, grudenta, muito
clara e limpa, te cativa logo de início, a fluidez do texto te impulsiona para
seguir lendo até o fim. Vale aqui o conselho de Eduardo Moscovis, que está na
capa: “CUIDADO: A ESCRITA DE BIAJONI É VICIANTE!”
O
narrador é o outro, não James Amaro, que a princípio não se identifica mas, que
no desenrolar da trama fica claro de quem se trata, agora é apenas EU.
Começa falando de James
Amaro, que se alguém fizesse um filme sobre ele, a primeira cena poderia ser de
James em seu Grande Carro Branco rodando pela avenida principal num domingo de
manhã. Sim, um mulherengo incorrigível, lascivo, predador sexual, incondicionalmente
apegado a um rabo de saia. Além disso apaixonado por Jazz, não se ouve em seu
carro outra coisa, seja, Miles Davis, Paul Desmond , dentre outros, desde que
seja jazz. A câmera passearia pelo quarto entre os lençóis para achá-lo
estendido após uma noite luxuriante, acompanhado pela desnudada da vez, estirada
ao seu lado, tentando recuperar o fôlego. Eu fiz uma viagem com James Amaro, de
onde nenhum de nós jamais saiu o mesmo.
Sempre foi assim, afinal durante dez anos estudamos
na Escola Estadual de primeiro e segundo grau Professora Risoleta Lopes Aranha,
desde 1977 e, lá estava ele. Sentava-me na primeira fileira, pois era miúdo,
introspectivo e atento às aulas, por isso também me chamava a atenção aquele
menino corpulento, de voz alta, atrapalhado e briguento.
Apesar da escola ser de classe média havia discrepância,
porque como outros, James era de família rica, o que a princípio fez com que me
mantivesse longe daquele arruaceiro, além do mais ele gostava de esportes e
brincadeiras mais agressivas. Logo ele se enturmou com os desportistas, enquanto
eu me apegava aos estudos, porque eu não era o riquinho da classe e queria
mesmo era estudar.
Teve uma
ocasião que o James teve problemas com português, precisou de auxílio e acabei
ajudando-o, foi daí que nos aproximamos, passando ele a ter um pouco mais de
respeito por mim.
Com o tempo os garotos olham para as garotas,
as garotas olham pra os garotos, sem que se perceba ao certo começam os
bochichos. Foi nesse tempo que começaram a dizer que a loirinha Ana Lúcia estava
caidinha pelo James. Com isso ele me perguntou o que eu achava, eu lhe disse a
verdade, nós só temos dez anos, somos ainda crianças. Tenho para mim que ele
não gostou muito do que lhe dissera e tentou beijar a Ana Lúcia no corredor da
escola. Olha foi uma confusão dos diabos os pais da Ana foram até à escola e
tudo mais.
Passaram-se os anos e com quinze anos o James
já era o pegador, bons anos aqueles, depois o tempo passou, nos separamos, cada
qual seguiu seu caminho até aquele dia em que pretendia acabar de vez com a
vida e a minha agonia.
Tinha apenas dez reais no bolso. Resolvi ir
até o supermercado comprar umas latas de cerveja algo para comer e depois quem
sabe dar um ponto final em tudo. Depois da longa jornada, ali estava eu devendo
três alugueis, desempregado, prestes a ser despejado, sem perspectiva, o que me
restava?
Andei entre alguns corredores, chegando na
prateleira de bebidas, foi quando vi James Amaro enchendo um carrinho de
compras ...
Você meu caro leitor precisa ler Biajoni
especificamente este livro, tenho certeza de que não vai se arrepender porque o
que escrevi aqui é apenas a introdução e há muito mais por vir.
Itaúna-MG, 16 de outubro de 2022.
Cláudio Lisyas Ferreira Soares
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