NINGUÉM ESCREVE AO CORONEL
NINGUÉM ESCREVE
AO CORONEL
Gabriel
Garcia Marques
Este
é o segundo livro escrito pelo romancista colombiano GABRIEL GARCIA MARQUES. Ela
dá início ao ciclo de Macombo, responsável pelo prestigiado prêmio Nobel de Literatura
por CEM ANOS DE SOLIDÃO.
Até Garcia Marques nenhum escritor sul-americano
havia ganho o cobiçado prêmio. Este escrito do autor não é um romance, é uma
novela, que dá para se ler de uma vez, porque são apenas 95 páginas, ela foi
escrita num momento particularmente difícil para o autor, quando era jornalista
radicado em Paris e passava por uma profunda crise financeira longe de sua
terra natal, a Colômbia.
Em Ninguém
escreve ao coronel, GABO como é conhecido por muitos, nos conta como um
coronel reformado está enfrentando a burocracia típica dos trópicos, porque há
longos anos, ou seja décadas, aguarda seja-lhe concedida a aposentadoria. No
atual momento o coronel está arrasado, em completo estado de miséria, tanto que
toma a lata de café e percebe que há somente uma colherinha de café no fundo da
lata. Apanha uma colher e raspa a lata retirando dali um misto de café e
ferrugem, o qual joga na panela de água fervente para em seguida coá-lo. Nesse
instante o coronel sente um nó nas tripas, como que cogumelos e lírios malignos
torcessem os seus intestinos. Era outubro.
Enquanto isso a mulher ainda deitada, tosse a
plenos pulmões, aquela tosse asmática que perdura já, por semanas. Assim
modorrenta, o coronel afasta o mosquiteiro para servir-lhe o café recém coado.
Ela logo pergunta a ele se tomara do café e mentindo responde que sim, nisto
ouviu o tanger dos sinos a finados. Havia tempos que não morria ninguém de
morte natural, dado a guerra civil. A mulher lembrou-se:
“- Nasceu em 1922.
Exatamente um mês depois de nosso filho. Dia sete de abril.”
A história fala do coronel, da mulher do
coronel e o galo. Sim, o galo de briga deixado pelo filho, que por muito tempo,
tempo mesmo, foi o responsável pelo sustento da casa. Agora falecido o filho, a
mãe, mulher do coronel quer mais sacrificar o galo, mas o coronel prefere
aguardar a volta da rinhas de galo, que está marcada para o janeiro do próximo
ano, porque segundo os jogadores mais fieis não há páreo para o galo do filho
do coronel e estão dispostos a apostar alto na vitória dele, quando reiniciar a
temporada de brigas de galo.
A fome, no entanto, urge que a panela receba
o galo e, nesse diz que me diz, do coronel com a sua mulher, o galo fica ali
amarrado ao pé da cama. O certo é que há mais comida para o galo e gasta-se
mais com ele do que com os desafortunados herdeiros do filho morto.
O coronel avisa que vai no enterro.
A mulher retruca dizendo que aproveite para vender o galo para o compadre.
Chegando na praça começou a chover outra vez.
O enterro ainda não havia saído. Alguém o viu saltando as poças e ofereceu uma
vaga no guarda chuva. O coronel agradeceu: - Obrigado compadre e recusando,
entrou na casa para dar os pêsames à mãe do defunto.
A mãe do defunto ouvindo as condolências do
coronel respondeu com um gemido, enquanto isso o compadre se aproximou e
perguntou:
- Compadre como vai o
galo?
Reticente o coronel respondeu: - vai
indo
De repente ouviu-se um brado: - para onde vão
com esse morto?
Dom Sabas, o compadre do coronel, disse: -
esqueci-me estamos em estado de sítio e não podemos passar com o cortejo em
frente à delegacia.
O Coronel emendou “mas isso não é subversão”.
Saber no que vai dar tudo isto exigirá de
você que leia esta brilhante novela, que serve para aqueles pouco afeiçoados à
leitura a se aventurarem a ler todas as obras do ciclo do Macombo, e eu garanto
você não se arrependerá. Sejam bem vindos ao universo de Gabriel Garcia
Marques.
Itáuna-MG, 27 de
setembro de 2022.
Cláudio Lisyas Ferreira Soares
Comentários
Postar um comentário