EM NOME DE DEUS - PARTE IV



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Em nome de deus – Parte iv
David Yallop

            O ano de 1978 foi o ano de três papas. Morre Giovanni Battista Enrico Antonio Maria Montini (Papa Paulo VI) e elege-se Albino Luciani (Papa João Paulo I), morre então o Papa João Paulo I e elege-se Karol Józef Wojtyła (João Paulo II). Não é o primeiro caso na historiografia da Igreja Católica Romana, mas sem sombra de dúvidas é um caso raro.
             Em seu discurso pela manhã após a missa de ações de graça Albino Luciani declara explicitamente o desejo de “prosseguir na pastoralização da igreja... mais do que isso do mundo inteiro.”
            No discurso por ele alterado manifestou: “O perigo para o homem moderno é o de reduzir a terra a um deserto, o ser humano a um autômato, o amor fraternal à coletivização planejada, muitas vezes promovendo a morte onde Deus deseja a vida.”
            A Igreja não sabia, mas tinha elegido um homem de visão e pronto para mudanças, quem não estava pronta para ser mudada era a cúpula da igreja.
            Um dos pontificados mais curtos da história, pois permaneceu no cargo apenas por trinta e três dias, o suficiente para abalar sismicamente as bases da administração no Vaticano.
            As mudanças começaram pelo nome a que gostaria de ser chamado e lembrado. João, referindo-se ao Papa João XXIII, e Paulo em homenagem ao Papa Paulo VI, o primeiro nome duplo na história da igreja, eis os ventos que sopravam sobre a capela Sistina.
            Não pararam por aí as medidas apavoradoras do novo Papa. Logo na primeira semana o periódico Il Mondo publicou uma carta aberta ao pontífice indagando se era “certo para o Vaticano operar em mercados como um especulador?” é óbvio que a matéria estava se referindo a atuação do Banco do Vaticano, do qual em tempos passados, mas recentes, fora alvo de desentendimentos entre Albino Luciani e o presidente do Banco do Vaticano Paul Marcinkus. Inquiria ainda, sobre as ligações entre Paul Marcinkus e Michele Sindona um especulador corrupto conhecidíssimo no meio financeiro.
            Isto foi o estopim para que o novo Papa abrisse uma investigação no Banco do Vaticano e obviamente angariasse um poderoso inimigo.
            Outra coisa que irritava o Papa era a maçonaria, principalmente um ramo conhecido como Maçonaria P2 e que infestara o corpo da igreja, resultando no levantamento nominal de todos os envolvidos com a maçonaria em todos os escalões da igreja.
            Para surpresa do Papa João Paulo I encabeçava a lista o nome de seu Secretário de Estado Jean Villot. A igreja ainda estava sob a égide da encíclica Humanum genus e outras que abominavam a maçonaria e que sujeitavam os participantes à excomunhão, no entanto, desde 1983, que com o novo código de direito canônico, esta pena foi abolida, aplicando-se a pena de interdito, não sendo o atual código explícito quanto à maçonaria, pelo visto ela venceu também no Vaticano.
            Naquilo em que recuara o Papa Paulo VI, o novo Papa foi contundente e tão logo assumiu suas funções exonerou do cargo de Bispo, John Cody, em Chicago e somou mais um inimigo influente.
            O papa João Paulo I também cutucou um vespeiro quando quis rever a posição da igreja quanto ao controle de natalidade, questão essa enterrada por Paulo VI pela encíclica “Humanae vitae” no pensamento da cúria romana e agora tinha a própria cúria contra sua chegada.
Incansável, passou a investigar os envolvimentos da igreja com a máfia, incluindo aí Licio Gelli, Roberto Calvi, Paul Marcinkus, porque por meio do Banco Ambrosiano, se fazia a lavagem de dinheiro dos mafiosos.
Assim, em pouco tempo havia o Papa, angariado um clã de inimigos poderosos, sendo que alguns dentro dos muros do Vaticano.
De fato nada poderia protegê-lo, porque Papas anteriores haviam modificado a segurança interna e os deveres da guarda suíça, ficando precária a vigilância interna e externa do Vaticano.
Segundo o autor dessa obra o Papa Albino Luciani foi assassinado mediante a ingestão de veneno, mas nada pode ser apurado porque não se permitiu a autópsia do corpo e foi declarada a insuficiência cardíaca por médico que não acompanhava comumente o seu estado de saúde.
Todas as providências de inacessibilidade ao corpo do Papa morto prematuramente, foram providenciadas pelo então secretário mantido no cargo Jean Villot, nada mais nada menos do que um dos suspeitos do homicídio do Papa.
É preciso ler o livro, para tirar suas próprias conclusões, sendo certo que não é possível aqui enumerar todos os fatos que levaram o escritor da obra a concluir dessa maneira. Vale lembrar que há outras obras escritas no período e após que contestam a versão de David Yallop, no entanto, sabe-se que o livro é mesmo uma investigação levada a cabo pelo mais famoso repórter investigativo da Inglaterra e que só se envolveu neste tema a chamado de conhecidos católicos italianos, que não se conformaram com a morte súbita do Papa João Paulo I.           
  Penso que o Papa Albino Luciani era o bisturi que a igreja precisava e do qual abriu mão.
            Leiam, é o único remédio.
Itaúna (MG), 01 de fevereiro de 2017.

Cláudio Lisyas Ferreira Soares


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