A CONFISSÃO DO IRMÃO HALUIN
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tirada do Google Imagens
A CONFISSÃO DO Irmão haluin
Ellis
Peters
Século XII, época mais conhecida como baixa idade média.
Estamos precisamente no ano de 1.142 e a pior parte do inverno chegara, agora
depois de um outono úmido de dias moderados, vamos ter que nos acostumar com o
rigor do frio.
As “previsões do tempo tinham predito fortes nevascas e
em meados do mês elas chegaram” porém não vieram em abundantes ventos, mas
surpreendeu com a queda silenciosa por vários dias e noites, soterrou tudo a
sua volta, choupanas, ovelhas e até pastores, abafando todos os sons, subindo
os muros e se acumulando nos telhados como montanhas brancas.
A neve de dezembro apesar de sua brancura, fez tudo ficar
mais melancólico e nada festivo, porque se trouxe uma trégua à guerra, isolou
vilas e comunidades inteiras, matando agora não pelas armas, mas pela fome, às
vezes toda uma aldeia.
Além de mudar radicalmente o curso da história naquele
início de 1.143, “provocaram, também, um ciclo de acontecimentos na Abadia de
Saint Peter e Saint Paul, em Shrewsbury.”
Nos últimos cinco anos a coroa da Inglaterra oscilou
entre as cabeças do Rei Estevão e sua prima a Imperatriz Maud, em sucessivas
reviravoltas, que se tornaram incontáveis as vezes, tanto que o povo não sabia
quem era de fato seu governante. O inverno propiciara a fuga para imperatriz,
que escapou das mãos do rei Estevão e voltara a posição inicial de onde novamente
reiniciaria a luta pelo trono.
Isso tudo foi em Oxford muito distante do que acontecia
nas abadias de Saint Peter e Saint Paul em Shrewsbury e lá nada se sabia sobre
esses acontecimentos, tendo elas mesmas suas preocupações em nada comparáveis
com as disputas do cetro monarca.
Engana-se, no entanto, quem pensa que naqueles rincões
não houvesse uma intriga a muito esquecida pronta para eclodir e revelar um
passado obscuro e mesquinho submersos nas emoções confusas do ser humano,
porque é disto que somos feitos da congruências de sentimentos irreconciliáveis,
capazes de matar pessoas sem que estas morram de fato.
A hospedaria recebera naqueles dias o emissário do bispo,
que infelizmente fora acordado no meio da noite por uma enxurrada vinda do
telhado acima, quando parte do telhado se abriu e deu um banho gélido e
antecipado no ilustre hóspede.
Assustado e aos gritos acordou toda a hospedaria, enquanto
os monges à uma se reuniam para acudi-lo e transferi-lo a aposentos onde fosse
instalado e recolhido em trajes e cama seca, na qual pudesse passar o restante
da noite.
De manhã o capítulo fez uma conferência, porque só havia
uma opção razoável para o problema do telhado. Ele tinha que ser arrumado, mas
com a neve e o frio intenso era demasiadamente perigosa a empreitada, sem dizer
que consumiria dias, senão semanas e ainda teria que ser feito por eles mesmos
os padres residentes da Abadia. Deixar para depois não era uma opção, porque
até que viesse o degelo os danos seriam exponencialmente maiores e talvez sem
solução.
Hugh, o xerife, homem de confiança do Rei, trouxera as
novas informando com detalhes a fuga da imperatriz ao Irmão Cadfael, no
entanto, viu logo que ali eles tinham seus próprios problemas. Reparara que o
conserto no lado sul do telhado da hospedaria havia iniciado e que o mestre de
obra acreditava ser capaz de consertá-lo com ou sem geada.
Hugh aproximou mais da escada e olhou para o
telhado...
“- Quem são aqueles
dois lá em cima agora? O moreno é Urien e o outro quem é?”
Ao
que lhe respondeu Cadfael:
“- É o irmão Haluin.”
Ora, ora, se não é o melhor pintor de iluminuras de
Anselmo?
Isso mesmo. Anselmo pediria para que ele não subisse lá,
mas Haluin jamais aceitaria.
O irmão Cadfael acompanhou o xerife até o pátio exterior
onde se encontrava sua montaria e ali mesmo se despediu dele, vendo-o passar
pela entrada da Abadia e desaparecer na imensidão branca da neve na estrada.
Haluin enquanto isso seria o último a descer do telhado
naquela noite, se se pode chamar aquilo de descer, porque ele despencou de doze
metros pelo menos até atingir o solo coberto de neve no pátio principal,
ficando ali entre a vida e a morte.
Depois de “O NOME DA ROSA” de Umberto Eco, proliferou
pela Europa um sem número de obras, que se passam na Idade Média, sempre com um
personagem, normalmente um clérigo, que com inteligência e genialidade é capaz
de desvendar crimes e mistérios. Esse é o caso da escritora britânica Ellis
Peters que criou o personagem - Irmão Cadfael, que ao estilo de William de
Baskerville soluciona os casos mais enigmáticos de seu tempo.
Itaúna-MG, 18 de
janeiro de 2021.
Cláudio Lisyas Ferreira Soares
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