A DECLARAÇÃO
A declaração
de Brian Moore
Este
é o primeiro livro desse autor que leio. Aliás, como de costume leio os livros
que compro e compro os livros que nunca li, daí, óbvio, após pesquisa, faço a compra
do livro de autor desconhecido.
Cada
leitor tem sua preferência, como tenho gosto eclético, busco uma integridade
dentro da trama, enredo que prende e aí o assunto não interessa.
O que vale é a
abordagem, a sensibilidade do autor, o domínio do assunto, a profundidade da
exposição, dentre outros múltiplos aspectos que, por ora, seriam cansativos de
abordar, ficando para outra oportunidade tal digressão.
Quero
falar dessa obra de Brian Moore, escritor Irlandês nascido em 1921 em Belfast e
naturalizado Canadense, lamentavelmente já falecido em 1999, uma perda para
literatura, opinião minha e de Graham Greene.
É
difícil recomendar leitura, porém se você gosta de romance ágil, de ação
intensa, permeada de questões psicológicas e discussões éticas enquanto se
desenvolve o enredo, então, esta é sem sombra de dúvida uma sugestão de
primeira.
Há
muito tempo não leio nada cujo narrador é onisciente, nada nos escapa, sabe-se,
portanto, o que falam e o que pensam as personagens. Tudo é revelado, os
temores, as angústias, o arrependimento verdadeiro e falso, enfim é do
interesse do autor que o leitor participe do diálogo colocando-o a par de todas
as miudezas do assunto.
A
obra tem muitas abordagens: o holocausto nazista, a intervenção da igreja
católica no conflito, a licitude dos atos de guerra, o arrependimento, o perdão
dado pela igreja e o estado aos remanescentes em fuga, a busca do fugitivo pelo
perdão de Deus, o confinamento por anos em mosteiros distribuídos pelo
território francês e a caçada perpetrada pelos grupos judeus para eliminar
esses fugitivos anônimos, bem como, a tentativa do judiciário em prender e
levar a julgamento esses indivíduos ocultos no seio da sociedade por crime
contra humanidade e claro o rastro da corrupção largamente utilizada para
encobrir os vestígios do fugitivo, comprando o silêncio das autoridades
estatais e eclesiásticas.
Por fim as justificativas idealistas
revelando o descontentamento do clero recente com a visão obsoleta de uma França
livre do gaullismo e ainda da flexibilização do vaticano II, abrindo assim
brechas para achar e prender BROSSARD, o protagonista em fuga.
Alguém
pode pensar que o livro deveria chamar-se a
fuga, no entanto, não podemos esquecer que o autor é brilhante em trazer
para a obra o fundo histórico, por isso o livro chama-se A DECLARAÇÃO, porque à
medida que grupos como Centros Wiesentahl de eliminação de nazistas fugitivos
davam cabo aos seus perseguidos; deixavam sobre o corpo uma declaração dizendo
quem era o falecido e a razão de sua execução sumária.
Por isso, ver-se o retrato de uma França dividida pelo sentimento
paternalista deixado pelo marechal Pétain, que leva facções francesas tanto
eclesiásticas, quanto civis a dar abrigo e sustento ao protagonista.
Revela a
falsicação de documentos tão comuns nos tempos da segunda guerra mundial
utilizado largamente pelos judeus para fugir dos países ocupados pela Alemanha
nazista e que agora é um meio também usado pelo fugitivo.
Este confronto
é o alvo do autor, porque mostra os interesses da sociedade francesa atual que
por um lado, apoiadas pelos direitos civis numa ação conjunta com o judiciário
e a polícia do exército querem prender e submeter a julgamento o homem em fuga,
o algoz assassino de Dombey, BROSSARD, há 44 anos impune e por outro traz à
tona, os interesses dos grupos de extermínio judaicos, que buscam vingança por
causa da ineficiência do Estado e quer fazer justiça com as próprias mãos.
Percebemos
que o mundo mudou, mas nem tanto, porque ainda estão agindo na França grupos
vingativos de vitimas judaicas do holocausto nazista, grupos eclesiásticos e
civis interessados em proteger o fugitivo e a máquina estatal para prender e
julgar o criminoso de guerra.
É nesse contexto
que inicia a história, Brossard, sob a capa de “Pierre Poliot”, velho, vivendo
no sul da França, lugar bucólico e sossegado, normalmente se dirige de tempos
em tempos ao Bar Montana para receber sua correspondência, em especial a que
lhe enviam recursos para seu sustento e deslocamentos freqüentes.
À espreita um
assassino contratado, que aparece no texto como sendo “R”, observava o local na
esperança de que Brossard realmente viesse e ele tivesse a oportunidade de
fazer o serviço.
Apesar de velho
e, cansado de tantas idas e vindas, de uma vida com liberdade restrita,
Brossard é muito mineiro, DESCONFIADO o que o faz cauteloso e pronto para
qualquer ação, portanto imprevisível.
Aqui me
despeço, porque não pretendo contar todo o livro, não há espaço e não devo
adiantar mais o que se passa na narrativa, porque me interesso que você caro
leitor desse comentário queira ler o livro.
Creio que
preservei o suspense, a tensão, que nos impulsiona nas páginas dessa obra até o
culminante fim.
BOA LEITURA.
Por certo você se surpreenderá no final.
Itaúna (MG), 20.01.2016
Cláudio
lisyas Ferreira Soares
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