SEMPRE CARO






Livro - Sempre Caro

SEMPRE CARO
Marcello Fois
         Comprei este livro no supermercado por algumas razões específicas, o preço era convidativo, sempre gostei de romance “noir” e este era escrito por um italiano, por fim por que tinha a indicação de Andrea Camilleri, autor italiano de romances “noir” tais como a forma da água e o cão de terracota.
         O romance “noir” foi uma coqueluche dos anos 20 e 30, e há autores memoráveis como Dashiell Hammett, Raymond Chandler, David Goodis.  Não demorou muito este tipo de literatura migrou para a Europa e teve sua acolhida na França e Itália, se tornando um gênero apreciado também nas américas, tendo representantes brasileiros e portenhos.
         O cinema também gostou dos tipos românticos e logo aderiu à febre dos leitores e produziu diversos filmes baseados nas obras desses escritores, tais como o FALCÃO MALTÊS, A DAMA DO LAGO e ATIRE NO PIANISTA.
         Para quem gosta de um suspense com mais ação e certa violência, com palavreado franco e grosseiro, bem como, ambientes obscuros e de segunda classe, seja bem vindo.
         Aqui na obra de Marcello Fois, o autor desenvolve seu trabalho na Sardenha do séc. XIX, uma ilha do mediterrâneo, autônoma, porém pertencente à Itália e que fica ao norte da Sicília, cuja capital é Cagliari.
         A ilha tinha sido erigida a condição de província e tinha representantes eleitos no parlamento italiano.
         Apesar do que foi dito acima, este romance “noir” europeu se desenrola com ação investigativa e a violência não é explícita e sim de resultado, no entanto os ingredientes principais estão lá, suspense e conversa franca.
         O investigador, que não é detetive, é um advogado contratado pela mãe para a defesa do filho foragido que, curiosamente, não quer ser inocentado, não quer falar com o advogado e ainda, esconde provas.
         Bustianu é o clássico investigador, mais apaixonado pela causa do que pelo honorário, mais preocupado em inocentar o cliente do que com os motivos do acusado em ocultar provas.
         Como sempre estes tipos são incansáveis, e buscam a todo tempo atingir seus objetivos. Primeiro avistar-se com seu cliente, segundo deslindar suas dúvidas, para assim justificar sua convicção de que não foi o acusado o autor do crime.
         Ah! O crime. Sim o rapaz está sendo procurado por furto de ovelhas do seu patrão e está foragido o que complica toda a situação, por que o melhor era se apresentar e se defender, no entanto, estamos na Sardenha, século XIX, as garantias são mínimas de uma não condenação, então por que facilitar.
         A preocupação maior do “Avogá” é que se julgado a revelia a pena pode ser maior e é claro sua apresentação espontânea ajudaria no andamento do processo.
         O nome do livro “Sempre Caro” é na verdade o nome que Bustianu dá a um hábito seu de caminhar até as montanhas para refletir e o significado é este mesmo sempre querido.
         O ambiente diferentemente de outros autores do gênero é bucólico e nada tem a ver com aqueles lugares fétidos, escuros e mal frequentados.
         O livro é prefaciado por Andrea Camilleri cujo conselho dado no início do prefácio, eu sugiro que seja seguido, porque deveria no meu entendimento vir o prefácio ao final como posfácio.
         O enredo vai calmamente desatando os nós que dificultam a solução do caso, surgem novos suspeitos e o anticlericalismo do investigador o faz suspeitar da Igreja.
         Bustianu, reúne provas, consegue falar com Zenobi, o cliente. Assim parece que haverá cooperação por parte do acusado, mas aí vem um complicador alguém mata Cosma o patrão e o principal suspeito, é claro, é o cliente do investigador.
         Pois bem há mais alguém interessado na absolvição de Zenobi além do advogado e a mãe. Sissínia, moça bonita e apaixonada filha de Cosma e que assevera a inocência do namorado.
         Podemos ficar por aqui, o livro não é enfadonho, nem moroso, tem descrições breves da paisagem e termina no SEMPRE CARO, aquela caminhada costumeira de Bustianu, onde ele agora como narrador diz:
Eis-me sentado no topo do monte. Daqui tudo parece suave e dolente. Tudo retorna a uma nitidez impiedosa. Eis-me aqui ferido por tanta beleza, quase aturdido, quase aniquilado. Que essa imensidade parece impossível de contar: enormidade contra pouquidão. Sublime que me atinge o ventre e o peito. Espaço, espaço, espaço sob o meu olhar. Espaço demasiado exorbitante até para meu corpo maciço. O vale azul como única divindade à qual seria justo inclinar-se. Não fosse eu um homem e poderia chorar. E às vezes choro justamente porque sou homem.”        
         Bustianu, romântico incorrigível, solitário por vocação, mais um belo personagem, marcante sem ser mais um 007 falastrão.
         Leitores continuem lendo, porque esta leitura me deu vontade de conhecer a Sardenha, a despeito do calor Mediterrâneo.
Até mais ver.
Itaúna 18.08.2015.

Cláudio lisyas Ferreira Soares      

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