O VISITANTE INESPERADO



O visitante inesperado (The unexpected guest)

O VISITANTE INESPERADO
Agatha Christie

Era pouco antes da meia noite numa fria noite de novembro. (...) Num de seus trechos mais escuros, a trilha fazia uma curva, passando por uma bela casa de três andares que se erguia bem recuada em seus jardins espaçosos, e era nesse ponto que se encontrava um carro, cujas rodas dianteiras estavam presas na vala à margem da estrada. Após duas ou três tentativas de acelerar para sair da vala, o motorista do automóvel deve ter concluído que era inútil insistir, e o motor caiu em silêncio.

            Começa assim, a peça teatral O VISITANTE INESPERADO de Agatha Christie, que hoje, graças a Charles Osborne está adaptada para romance.

            Seja como peça teatral, seja como romance, temos diante de nós o melhor dessa escritora britânica, nascida em 1890 em Devonshire, Inglaterra.

            É claro que não é mistério para ninguém que se trata de romance policial, gênero que se propagou pelo Século XX e teve inúmeros autores de renome e continua a arrebanhar leitores mundo a fora.

            Aqui temos um ótimo exemplar de como envolver o leitor e levá-lo primeiro a uma certeza quem é a assassina, porque desde o início nos é revelada a homicida.

            O charme é que tão logo o assassínio é cometido aparece inesperadamente um visitante, que tendo seu carro imobilizado na vala na margem da estrada, procura ajuda na casa mais próxima e justo onde ocorrera há instantes um assassinato.

            O mais incrível é que o desconhecido quer ajudar a assassina a livrar-se da culpa e engendra um plano mirabolante, extraindo informações acerca do morto e montando uma história crível para a polícia.

           Nosso inesperado visitante convence a esposa assassina dos álibis a serem apresentados, se inclui na cena do crime, fabrica pistas e torna-se testemunha ocular da fuga do suposto assassino.

            O desenrolar da trama nos traz aquela sensação de aperto e sufoco passado pelos mentirosos e à medida que se desenvolve, outros personagens vão sendo acrescentados, trazendo insegurança e revelando mistérios acerca do morto.

            O defunto fora encontrado em sua cadeira de rodas na sala de sua casa, alvejado por um tiro e não se sabe o motivo e por que tal fato se deu naquela hora da madrugada.

            Ao que parece o falecido não era querido por ninguém naquela mansão, a viúva sempre fora vista como vítima das excentricidades do marido, a mãe apesar do amor de mãe não nutria mais a afeição de antigamente, o irmão que sofre de certa demência pelo fato de ser desprezado pelo “de cujus” se alegra com a sua morte, os empregados são reticentes.

Porém à medida que a história caminha, a viúva tem sua versão colocada em risco pelos segredos conhecidos pelo seu cunhado demente, os empregados se vêm pressionados a informarem mais sobre o falecido e si mesmos.

Apimentando todo o enredo e como não podia faltar há o policial responsável e seu assistente que desconfiam de tudo e todos.

            Esta é uma obra recuperada, pequena, simples e madura, nos faz refletir até que ponto alguém tão indesejável e obtuso possa com sua personalidade avessa justificar ser morta sem consequência.

            É bom esclarecer que a autora não está preocupada em dar resposta a possíveis indagações do gênero. Tudo está lá o leitor é quem deve responder, por que a escritora propõe, mas não soluciona, indaga nas entrelinhas, mas não faz nenhum juízo de valor, deixando para nós o desafio de julgar as ações das personagens.

A narrativa deixa a entender que há no ar um alívio com a morte do proprietário do lugar.

            Por se tratar de uma obra de Agatha Christie o leitor pode sem sombra de dúvidas se surpreender com o final e sendo este meu maior interesse é que lendo você se surpreenda, deixo para você caro leitor esse desafio.

            Aqui me despeço, “itaunescamente”, saudações.



  
Itaúna(MG), 05 de março de 2016.




Cláudio Lisyas Ferreira Soares

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